segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O Segredo Dos Seus Olhos



Para quem achava que o cinema americano, inglês e francês era sinônimo de qualidade e as películas gerais (em especial as sul-americanas) eram fracas, toda regra tem a sua exceção. Digo isso porque é verdade, tem muito pseudocinéfilo por aí, que diz que cinema é o de Godard, o de Kurosawa (que não se encaixa em nenhuma das nacionalidades citadas acima mas, vai lá) e despreza produções que deveriam receber um maior destaque.
Na Índia, por exemplo, encontramos um filme lindíssimo que me surpreendeu nos últimos dias, o "Como Pequenas Estrelas Na Terra" (ou, "Somos Todos Diferentes").
Até no Brasil, podemos ver que as produções têm melhorado, como "Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora É Outro", "Heleno", "Reis e Ratos", "2 Coelhos" e outros aí, que embora não sejam filmes perfeitos, demonstram uma incrível evolução do cinema nacional.
Mas não estou aqui para falar da falta de valorização ou divulgação de filmes desconhecidos. Estou aqui para falar de uma pérola do cinema argentino que foi sim reconhecida, que levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010 e que deveria ter sido melhor divulgada aqui no Brasil.
Essa pérola, chama-se O Segredo Dos Seus Olhos. Um daqueles filmes bonitos, emocionantes, que surgem raramente, um acerto em mil.
Na trama, Benjamín Espósito (Ricardo Darín) acaba de se aposentar como funcionário público da justiça penal argentina e resolve escrever um livro sobre um crime que investigou. Ele, então, volta a conviver com alguns personagens do fato ocorrido 25 anos antes.
A trama, baseada no argumento de Eduardo SacheriJuan José Campanella é seca, humana, cruel, pesada. Acima de tudo, é uma história sobre o homem, sobre suas paixões. Incrível como o diretor Campanella consegue unir crime, mistério, romance e até humor durante os 130 minutos da película, que passam como se fossem 10.
O personagem de Darín vive no passado, vive de lembranças. Memórias de perdas, de amores terminados, de mistérios inconclusos. Quando resolve escrever o tal romance, é uma maneira de voltar àquilo que sempre o pertubou, que o sempre impediu de viver. Enquanto vai escrevendo seu livro e revisitando as memórias por meio de flashbacks, vamos vendo a magnitude de um filme relativamente simples, sem efeitos especiais, urbano, pacato mas grandioso. Ao invés das correrias, tiroteios e perseguições dos filmes policiais comuns aqui temos muito diálogo, sempre grandioso e coerente.
A fotografia é belíssima e dá espaço à mais bela cena de perseguição que já vi num filme. Aliás, não só à perseguição, mas a sequência em si é linda. O modo como a câmera percorre o estádio de futebol, o chute quase certeiro, a reação da torcida, os closes atrás do assassino. Tudo feito com profissionalismo, de um modo que o nosso caro José Padilha também sabe fazer com maestria.
Os atores são muito bons. É lindo ver como os personagens amadurecem e mudam (não só fisicamente) durante os 25 anos que se passam. O romance de Benjamin com Irene Hastings (Soledad Villamil) é igualmente fascinante. É um romance calado, sofrido. Sabemos que ele existe, mas não o porquê de não florescer. Muito bom!
Outro papel que chama a atenção é o do grande Guillermo Francella, interpretando Sandoval, o carismático (e alcóolatra!) amigo de Benjamin, que serve como alívio cômico do filme e que desenvolve um grande exemplo de amizade durante a película. Vê-los juntos é sempre divertido!
O roteiro - ou melhor, a trama em si - é com certeza o ponto mais forte do filme. Como eu citei antes, mostra o lado humano dos personagens, frio, cru. Algumas vezes, são as cenas que chocam, outras os diálogos ou as ações dos personagens. Tudo aqui parece real e ao mesmo tempo lírico. É emocionante acompanhar toda a história, que vai muito além de um drama policial.
Certamente um dos melhores filmes dos últimos anos e um bom representante do bom cinema latino-americano (foi o terceiro filme latino-americano a receber o Oscar de melhor filme estrangeiro, sendo o primeiro o brasileiro "Orfeu Negro" e o segundo o também argentino "La historia oficial"), O Segredo Dos Seus Olhos é certamente uma grata surpresa. Por falar em surpresa, não existem palavras para descrever o final surpreendente do filme, daqueles que te fazem ir dormir pensando e meditando, tentando entender. Imperdível!

NOTA MECÂNICA: 9,0

sábado, 29 de dezembro de 2012

Assassinato em Gorsford Park



Um casarão. Hóspedes ricaços, esnobes e falsos. Um anfitrião odiado por todos aparece assassinado. Alguém daquela casa o envenenou e logo depois cravou uma faca em seu peito. Quem será o assassino?
Isso poderia muito bem ser a trama de um livro de Agatha Christie, não é mesmo? Em Assassinato em Gosford Park, tudo lembra os livros da escritora inglesa, menos a qualidade.
Quem leu livros como E Não Sobrou Nenhum (publicado anteriormente como "O Caso dos Dez Negrinhos"), Assassinato no Expresso do Oriente e É Fácil Matar, está acostumado com esse tipo de trama, em que várias pessoas estão confinadas em um local, ocorre um crime e uma delas foi o assassino, nos levando a acompanhar tudo, numa espécie de "BBB macabro".
O filme em questão nesta crítica, se inspira nos mais diversos livros de Christie para criar uma trama própria que por si só é fraca, incoesa e desinteressante.
O modelo em si, já muito utilizado no cinema (parece que filmes assim são lançados todo ano) não consegue ficar batido, em minha humilde opinião. Adoro filmes como O Vingador Invisível (excelente adaptação do já citado livro E Não Sobrou Nenhum) e O Anjo Exterminador, por exemplo, mas Gosford Park chega a ser decepcionante!
O filme inicialmente tem a pretensão de parecer uma novela inglesa. Durante 60 minutos vemos umas dezenas de personagens sem-graça, uns com profundidade outros não, jogados em um casarão. Fofoca vai, fofoca vem. Nada parece ter sentido, apenas que são pessoas esnobes (no caso dos ricaços) e outras conspiradoras (os criados, em sua maioria). Não consegue-se criar simpatia com nenhum dos personagens, e olha que o elenco tem umas estrelinhas com Clive Owen, Ryan PhillippeMaggie Smith, Kelly Macdonald, Michael Gambon e Hellen Mirren. Todos misteriosos, mas nada interessante. Na primeira metade do filme, há um clima de novela inglesa, e confesso que acompanhei tudo com muito desinteresse, nada me chamava a atenção. Então, lá pra metade da película, ocorre o assassinato que estraga a surpresa do filme na tradução brasileira (a versão original chama-se apenas "Gosford Park").
Você então vê-se numa obra de Christie e pensa "caramba, vou prestar atenção em todos os detalhes, porque sei que no final haverá uma revelação incrível, que me fará ficar dias pensando no filme". Balela! A pessoa que assassina o Sir William McCordle (Michael Gambon) é justamente - spoiler a frente - a última pessoa vista com ele! Simples, não?
E então entra na trama um detetive (Stephen Fry) que mais parece uma paródia de Hercule Poirot. O detetive simplesmente não consegue decifrar nada. Ele é tão inútil que despensa os criados e concentra suas investigações nos magnatas. No fim, o espectador descobre quem cometeu o assassinato (o que é óbvio) através da personagem de Kelly Macdonald. Termina-se o filme sem mistérios, sem punição para os culpados e com todos os personagens indo embora, como se nada tivesse acontecido.
É estranho como um filme tão fraco para o padrão criado fora indicado a tantos prêmios (vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original (?!), BAFTA, vencedor do Globo de Ouro de Melhor Diretor para Robert Altman)!
No fim, vemos que o filme pelo menos funciona como crítica à aristrocracia e aos conflitos sociais, talvez por isso tenha recebido destaque. Há uma crítica clara e objetiva quanto às diferenças sociais, totalmente perceptível e bem debatida através dos diálogos. Mas crítica social, por si só, não sustenta filme de suspense.
Atores mal aproveitados, trama fraca, humor desnecessário e um mistério nada misterioso marcam Assassinato em Gosford Park. Quem gosta dos livros de Christie, como eu, pode até se deliciar com as comparações. Quem gosta do cinema inglês, terá um prato cheio de sotaques, cavalheirismos e situações típicas do cinema britânico. Mas se você espera um mistério intrigante, personagens interessantes ou até mesmo uma boa dose de ação e genialidade, passe longe. O filme não é ruim, isso é claro. Mas poderia ter sido bem melhor.

NOTA MECÂNICA: 6,5

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada


No início do século XXI estreava nos cinemas a talvez maior franquia cinematográfica desde Star Wars (eu mesmo a considero a melhor de todas), O Senhor dos Anéis. A Sociedade do Anel, primeira parte da franquia, estreara em 2001, seguida de As Duas Torres em 2002 e O Retorno do Rei, em 2003.
Logo, as aventuras do pequeno hobbit Frodo Bolseiro juntamente com os guerreiros da Sociedade do Anel em busca da destruição do Um Anel viraram fenômeno em todo o mundo, criando uma legião de fãs não só dos filmes mas trazendo novos adeptos aos livros de J.R.R. Tolkien, escritor das sagas sobre a Terra-Média.
O Senhor dos Anéis são três livros que fazem parte de tais sagas, mas sempre houve a dúvida do porquê de os estúdios resolverem trazer logo as aventuras de Frodo e companhia para as telonas, quando O Hobbit, livro que conta uma história anterior e que é igualmente bom e épico (considerado por alguns até o melhor de todos) não seria adaptado.
Pois bem. Após Peter Jackson fazer grana, sucesso e conquistar ao todo 17 estatuetas do Oscar com sua trilogia, era hora de Hollywood fazer dinheiro em cima da mesma fórmula. Guilhermo Del Toro foi então chamado para dirigir O Hobbit. Protocolo, trabalhos alheios e questões por aí no entanto, afastaram o diretor de Hellboy ainda na fase do roteiro, e Jackson foi novamente convocado para dirigir essa espécie de epílogo.
Pra quem esperava um filme menor (com a desculpa de que continuações ou ideias "repetidas" dão lixo no cinema) ou até mesmo mais bobo (por conta de O Hobbit ser um livro infantil, que Tolkien escreveu para seus filhos), há de pagar-se algumas línguas. Jackson nos entrega um filme tão épico quanto ou até mesmo melhor que a saga do Um Anel.
Aqui, conta-se a história de Bilbo Bolseiro, tio de Frodo e personagem secundário da primeira trilogia. Jackson trata de fazer as adaptações e apresentações necessárias, até mesmo acrescentando coisas que não estão no livro, tudo para criar uma conexão com a saga passada.
Bilbo (Martin Freeman) é um pacato hobbit que, convocado pelo mago Gandalf (Ian Mckellen) embarca em uma grande aventura atrás de um tesouro guardado pelo dragão Smaug (Benedict Cumberbatch). Em sua companhia, vão os anões  Bofur, Ori, Kili, Fili, Dwalin, Oin, Bombur, Dori, Gloin, Balin, Nori, Bifur e o líder Thorin, Escudo de Carvalho.


Não há tanta coisa a ser observada no filme, podendo ser resumido no seguinte argumento: quem dorme assistindo ou não suporta O Senhor dos Anéis vai sentir o mesmo com O Hobbit. Já quem amou a trilogia inicial, vai ter aqui um prato cheio, tanto pra fãs de Tolkien como para fãs de filmes épicos em geral!
Por ser um livro infantil, O Hobbit não é tão sombrio ou violento como O Senhor dos Anéis, o que dá espaço a momentos musicais muito bem executados e também a piadas a todo o momento, transformando a aventura em algo mais leve e acessível a todos.
Quem não entendia bulhufas de nada sobre a Terra-Média em OSDA, aqui terá mais explicações sobre tudo, visto que esta história vem antes da filmada inicialmente. Aqui há a apresentação de vários personagens das outras sagas, algumas ligações que o próprio Jackson criou, inspirado pelo roteiro de Del Toro.
Os efeitos especiais são um show à parte. Se em OSDA já vemos um esplendor de CGI, aqui em O Hobbit a técnica é muito mais elaborada, e todos os personagens fantasiosos são feitos com qualidade excepcional pela Weta Workshop. Só achei ruim que os orcs outrora interpretados por atores maquiados tenham sido substituídos por atores com captura de movimento, ou seja, digitais.
Outra coisa que também é resultado da evolução tecnológica: os cenários reais não aparecem tanto, dando lugar a muitas paisagens digitais, porém belas.
A câmera usada é novidade e dá um aspecto mais fluído (e ligeiro!) aos personagens. Veja bem: 1 segundo de video, equivale a em média 24 frames (ou "imagens", "fotos", como queira), cada um a centésimos de segundo. Em O Hobbit, são 48 frames por segundo, dando um resultado diferente até mesmo na qualidade da imagem. Note que "diferente" não é sinônimo de "ruim". Logo nos acostumamos e nem reparamos nada de frames, segundos ou coisa do gênero!
Atores excelentes, cenários e efeitos especiais super bem feitos e roteiro coeso são suficientes para criar um grande filme de aventura, mas filme épico que se preze precisa de trilha sonora grandiosa! Todos os filmes da saga passada foram premiados com estatuetas por trilha sonora e com certeza com O Hobbit não será diferente. A trilha sonora é estupenda! As músicas dos anões, o suspense, a magnífica música cantada por Thorin e até mesmo a já conhecida "trilha sonora do Anel" marcam todo o filme, sempre encantando.



No fim, O Hobbit é uma grata surpresa de fim de ano, valeu muito a pena esperar anos pra assistir! Está aí para prestigiar os fãs, atrair os mais novos, marcar a sétima arte e quem sabe ganhar algumas estatuetas? Que venham os próximos filmes dessa nova trilogia preciossssssa!


NOTA MECÂNICA: 9.0

sábado, 17 de novembro de 2012

Tombstone




De época em época criam-se clássicos em determinados gêneros cinematográficos, meio que de supetão. Casablanca era apenas mais um filme comum e virou um clássico, Blade Runner foi super criticado e hoje é cult, Xuxa e Os Duendes... Não, esse último é ruim mesmo.
O faroeste (ou western, como nós, cinéfilos, chamamos) tem uma longa jornada nas telonas (uma vez que está no cinema desde seu início), e embora sempre fora um estilo notadamente norte-americano, se popularizou com os spaguetti que Leoni dirigia, lá na Itália. No fim das contas, existe faroeste em tudo quanto é canto (inclusive no Brasil), em todas as épocas e de todas as formas. Mas como se criar uma obra-prima de um gênero tão usado, tão batido e por ora tão... clichê?
Bom, George P. Cosmatos conseguiu criar uma, no comecinho da década de 1990. O curioso de toda obra-prima, é que ela não nasce sendo uma obra-prima (como James Cameron tentou vender seu "Avatar" e acabou quebrando a cara: hoje, ninguém mais gosta do filme). Até um filme ganhar um status de cult, travar-se-á uma longa jornada, crianças. E creio eu, que o filme em questão nesta crítica, Tombstone: A Justiça Está Chegando, ainda não virou obra-prima. Na verdade, creio que um dia será, se a cinefilia permitir.
É preciso realmente assumir que o filme tem suas falhas, principalmente no quesito "roteiro". Umas soluções forçadas aqui, uns clichês brabos acolá. Mas por favor, é preciso assumir: as qualidades superabundam neste clássico de um diretor medíocre mas que aqui consegue brilhar.
Cosmatos é um italiano que dirigiu filmes como Stallone Cobra e Rambo II, pra você ter ideia. O interessante, é que como italiano, o cara deveria ter investido mais em bang-bangs como Tombstone.
A trama, conta a os feitos do lendário Wyatt Earp (Kurt Russel), juntamente com seus irmãos (Sam Elliot e Bill Paxton) e um amigo que consagrou-se uma lenda do faroeste: Doc Hollyday (Val Kilmer).
Os irmãos Earp estão se aposentando do serviço à lei. Ambos, impulsionados por Wyatt decidem recomeçar, casar, abrir um negócio e envelhecer bem. Para isso, decidem todos ir para uma cidade tranquila e moderna, chamada Tombstone. O problema, é que lá, há uma gangue de Caubóis infringindo a lei, estando acima até mesmo do xerife e delegado da cidade. Logo logo, a sede de justiça dos agora pacíficos Earp vai leva-los a novamente agir, contando com a ajuda do pistoleiro e amigo Doc Holliday.
Os feitos de Earp e companhia foram ainda retratados em outro filme, no ano posterior, estrelado por Kevin Costner, o Silverado. Porém, no filme do italiano Cosmatos, o buraco é mais embaixo: auteram-se muitas coisas da história real, para dar um tom mais épico, mais heróico aos personagens e acrescentam-se diálogos superafiados e tiroteios cheios de tensão!
A trama é tipicamente western: os caras que chegam na cidadezinha empoeirada, sem querer nada, apenas viver. Aí são provocados e botam pra quebrar.
Em Tombstone, o buraco é mais embaixo, e ao tentar exercer a justiça os quatro pistoleiros podem pagar caro. Com sangue.
Embora eu já tenha citado o roteiro, que tem seus probleminhas, o filme é explêndido. O elenco está afinadíssimo, Russel nos entrega um Earp muito consistente, sólido, íntegro. Embora todos os atores sejam esforçados e tenham seus momentos de grandeza, quem brilha mesmo no filme é Val Kilmer. É incrível como o personagem rouba todas as cenas em que aparece e faz o mais simples diálogo parecer grandioso.
A fotografia é muito boa, figurino, cenários, tudo muito bacana, tipico de faroeste. A trilha sonora também é bem feita, embora haja a ausência da tensão de Morricone.
Acredito que Tombstone um dia torne-se um clássico justamente por causa dos diversos acertos que o filme tem. É incrível, mas está repleto de cenas memoráveis. A cena em que o personagem Johnny Ringo faz malabarismos com a pistola, tentando intimidar o alcoólatra Holliday. Depois de todo o exibicionismo, Doc simplesmente pega o copo em que estava bebendo seu whisky e faz os mesmos malabarismos que o pistoleiro, com uma cara sarcástica impagável. Os diálogos são todos afiados, irônicos, carregados de efeito.
Por fim, Tombstone é um grande faroeste, que embora ainda seja visto como um "pipocão dos anos 90", creio que será reconhecido posteriormente.


NOTA MECÂNICA: 8,5

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Os Intocáveis



Existem alguns diretores que nascem para certo tipo de filme, fazendo com que seu estilo torne-se inconfundível. Veja bem: Tarantino, nasceu para filmes carregados de ironia, violência e Samuel L. Jackson. Tim Burton, para universos macabros, góticos, Johnny Depp e Helena Boham-Carter. Já Brian De Palma, é o diretor de filmes noir dos nossos tempos.
De Palma não é - convenhamos - esse diretor todo, em seu portifólio tem alguns clássicos como Missão: Impossível, Scarface, Carrie A Estranha e Dublê de Corpo. Podemos ver que são filmes bons, famosos, mas também tem muita bobagem e filme água com áçucar, como os filmes de comédia que dirigia no início de carreira e o recente (porém fraco) Dália Negra.
O filme da vez (que talvez seja o melhor da carreira do diretor) que não citei acima é Os Intocáveis, clássico neo-noir da década de 1980, com elenco carregado de estrelas. Kevin Costner, Robert De Niro, um jovem Andy Garcia e um estupendo Sean Connery.
A trama é noir ao quadrado, cheia de estilo, intriga e mistério: numa corrompida Chicago dos anos 1930,  o policial Eliot Ness (Costner) decide enfrentar e prender Al Capone, em plena Lei Seca americana. Para a quase impossível tarefa, ele recruta um time de policiais honestos e com sede de justiça, em uma missão que cada vez mais mostra-se suicida.
Como eu disse acima, o filme é um noir cheio. Figurino, cenários (a reconstrução da cidade, perfeita!), ambientação toda bem feita, realçada pela fotografia super competente.
As atuações estão ótimas. Costner, ainda no embalo de Dança com Lobos e Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões nos entrega um personagem competente, que realmente quer fazer o que é certo. É impossível não se preocupar com ele e sua família. De Niro rouba todas as cenas em que aparece, pena que não esteja tão presente em todo o filme. Garcia está tão novo e consegue transparecer tudo o que seu personagem representa: italiano americanizado, jovem, rebelde. Quem brilha mesmo, é Connery que por seu papel nesse filme recebeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
De Palma nos entrega um roteiro épico, transbordante de suspense. Lembro que comentei com um amigo que não sentia o coração tão acelerado desde os diálogos de Bastardos Inglórios.
E Os Intocáveis é assim, ficamos com o coração na mão, batendo bem forte, sabendo que a qualquer hora um deles pode morrer. Que a missão pode fracassar, que Capone pode sair ileso.
O momento que mais me fez pipocar no filme, foi a cena da escadaria da estação de trem. Ali está o trunfo de De Palma, a cena que paga todo o filme, a cena mais memorável.
Resumindo tudo acima: se você gosta de bons filmes policiais, com ação, suspense, excelentes atuações, roteiro amarrado e um clima noir irresistível, precisa ver Os Intocáveis!

NOTA MECÂNICA: 8,5

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres



A trilogia Millenium ganha uma versão ocidental de um best-seller, que teve uma versão sueca estrelada por Noomi Rapace (Sherlock Homes: O Jogo das Sombras).  A trilogia consiste nos filmes Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, A Menina que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar. O primeiro filme, Os Homens Que Não Amavam as Mulheres conta com Daniel Craig e Rooney Mara no elenco e direção de David Fincher.
Mikael Blomkvist (Daniel Craig) é um jornalista que passa por um desiquilíbrio financeiro, e é contratado como detetive para investigar um caso de 40 anos: O assassinato de Harriet Vanger. A trama tem seus “pistolões”, mas garante o envolvimento e diversão no filme, os fãs dos livros e da versão sueca podem achar falta de desenvolvimento na trama, porém para uma versão hollywoodiana, já era de se esperar que os detalhes ficassem em segundo plano. Mas o que realmente acontece é que a estrutura de romance policial é substituída por algo mais imediato e com ênfase as cenas de Rooney.

A trilha sonora do filme é animadora, não no âmbito de levantar as cenas, mas tem algo de diferente que chama a atenção, é muito bem empregada, ímpar. A ambientação é muito boa e os personagens são da sua maneira carismáticos à medida que demostram suas particularidades.

A versão americana, em parte, não foge a regra dos remakes, adaptações para o público americano podem deixar os fãs do sucesso cult sueco desanimados, mas para quem teve  o primeiro contato com a trama a situação muda.


Olhando pelo lado positivo, o filme teve uma ótima aceitação e se espera que as sequencias se desenrole buscando atender (assim espero), os dois tipos de públicos.
Boas atuações, Boa trilha sonora e um bom backstage renderam ao filme 5 indicações ao Oscar: Melhor Atriz , Fotografia , Montagem, Edição de Som e Mixagem de Som.

Gosto da saga em si, e sou ainda mais fã do David Fincher (Clube da luta, Seven...) que despensa apresentações, aguardo os decorrentes filmes. Apesar das poucas falhas devo considerar um filme mediano, do tipo que proporciona diversão porém, não é explorado o esperado. 


NOTA  MECÂNICA: 8.0

sábado, 27 de outubro de 2012

O Espetacular Homem-Aranha


A ideia de ter um reboot (ou reinício) da franquia do Homem-Aranha nos cinemas apenas 5 anos após o último filme (da trilogia dirigida por Sam Raimi) assustava qualquer cinéfilo, nerd, fã de quadrinhos ou expectador em geral. Afinal, embora não fosse tão fiel aos quadrinhos, a franquia iniciada em 2002 cumpria muito bem o seu papel perante o público,  agradando a todos.
Quando foi anunciado o recomeço da franquia, desta vez dirigido por Marc Webb (que dirigia clipes do My Chemical Romance e Green Day e que em 2009 nos entregou o excelente (500) Dias com Ela), estrelado por Andrew Garfield (que por enquanto é conhecido apenas como "o brasileiro de A Rede Social") e Emma Stone (atriz conhecida e bem talentosa) era óbvio que todo mundo esperasse uma bomba, um filme fraquíssimo que nunca superaria a franquia Raimi (refiro-me aos dois primeiros, porque o último foi uma simples porcaria). E cá pra nós, na minha humilde opinião: o resultado foi excelente e o filme é sim melhor que os anteriores. Adiante explicarei porque, mas agora, uma dica pra você que ainda não assistiu: esqueça os filmes passados, esqueça totalmente, tenha você gostado deles ou não. O Aranha de Webb é diferente, não é um remake, é simplesmente uma nova visão do herói (assim como acontece direto nos quadrinhos)!
Assim, deixemos de lado a ideia de comparar ambas as franquias (embora algumas comparações sejam inevitáveis) e assistamos O Espetacular Homem-Aranha com a mente aberta!
A nova história mostra uma versão totalmente inspirada no Universo Ultimate dos quadrinhos (que é aquele em que Peter Parker é adolescente e namora Gwen Stacy) e focada não no Cabeça de Teia e sim em Peter Parker. Para isso, Webb usa de uma abordagem que não funcionou muito nos anos 90 mas que é a base para a já citada linha Ultimate: quem eram os pais de Peter? Qual a verdade sobre a história deles?
O Peter de Garfield é diferente do de Maguire. Aqui, ele é um garoto nerd (mas nerd mesmo, não looser, como o antecessor) que vive atormentado pela dúvida de quem eram os pais. Alguém que desde antes de ser picado por uma aranha geneticamente modificada já demonstrava dotes super-heróicos comuns, como sede de justiça. Sinceramente adorei ver isso neste Peter, a vontade de desafiar os valentões do colégio mesmo sabendo que está em desvantagem. Outra coisa que criticaram mas que curti: o fato de Peter ser um skatista. O fato do cara andar de skate não o torna menos nerd, ou menos lerdo, simplesmente o atualiza pro mundo de hoje, demonstra que ele já não era nenhum sedentário e que ele estava acostumado à adrenalina. O Peter do novo filme é totalmente cool! Aliás, o filme o torna-se pop por causa dele, carregado de referências, desde o velho pôster de Eistein no quarto (presente nos quadrinhos), até trilha sonora com Coldplay enquanto anda de skate além de ter um pôster de Janela Indiscreta no quarto, clássico de Hitchcock. O novo Peter é muito legal!
A Emma tá perfeita como Gwen. Parece que saiu dos quadrinhos, jeito, figurino, tudo! As cenas dos dois juntos, os diálogos super meigos (do jeito que só Webb sabe fazer, vide "(500) Dias..."), tudo muito parecido com os quadrinhos Ultimate.
Tio Ben e Tia May (Martin Sheen e Sally Field respectivamente) não têm tanta presença como na trilogia antiga, mas seus atores os incorporam de tal forma que assumem não só a figura de tio mas também a imagem de pais para Peter (no antigo, estavam mais para avô e avó). Todos os momentos de Peter com Tio Ben são marcantes!
A construção dos personagens, o clima colegial, tudo muito agradável e bem feito.
A trama também está bem construída, não tem aquelas improváveis coincidências dos outros filmes, e há um clima bem mais realista (embora o vilão seja o Lagarto), sendo uma prova disso o uso dos lançadores de teias (bem mais fieis às revistas em quadrinhos e mais realistas).
O vilão também decepciona. Rhys Iffans ingresso de filmes de comédia (você acredita que ele é o inquilino que mora com o personagem principal em Um Lugar Chamado Notting Hill?) está super bem no papel e seu Lagarto (ao contrário do das HQ's) não é uma fera descontrolada e sim um lado meio Mr. Jekyll do personagem, obcecado pela perfeição da raça humana.
Agora falando do herói que dá nome ao filme: este é o Homem-Aranha que eu queria ver! É incrível, a estrutura física, o uniforme feito por Parker e principalmente as piadas. As cenas dele vestido e lutando seja contra bandidos ou seja contra o Lagarto e fazendo piadinhas são muito iguais aos quadrinhos! As poses que ele faz no ar, os movimentos são McFarlane puro!
No fim, O Espetacular Homem-Aranha não é tão grandioso quanto os filmes da trilogia antiga, mas consegue superar-se, por mostrar um lado humano, real que nenhum dos outros filmes mostrou. Tem capacidade aí pra seguir com mais excelentes tramas e com certeza eu assistirei. Talvez decepcione aos nerds das décadas de 70, 80 e 90, mas a geração que cresceu com os quadrinhos do universo Ultimate e com os desenhos da TV... Nossa, o filme é Espetacular!

NOTA MECÂNICA: 8,5

domingo, 29 de julho de 2012

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge


Em 2005 um homem chamado Christopher Nolan lançava um filme que mudaria para sempre o ramo "filme de super-heróis", ou melhor: daria um padrão a ele. O mundo cinematográfico ficara encantado com o estilo impresso no universo do Homem-Morcego por Nolan, em Batman Begins, estilo esse próprio, realista e mui agradável, nada comparado ao Batman de Burton ou à catastrófe que foi o de Schumacher, por exemplo.
Um filme de heróis sombrio, pessimista, sério, policial. Nada comparado ao que já tinha sido feito antes.
Em 2008, veio o ápice da carreira de Nolan: Batman: O Cavaleiro das Trevas.
Com novamente Christian Bale no papel de Bruce Wayne/Batman, o filme brilhou, graças à trama complexa e inteligente e principalmente à magistral interpretação do finado ator Heath Ledger como o vilão Coringa, papel que rendeu o Oscar póstumo de Melhor Ator Coadjuvante a Ledger.
Até hoje, ao assistir O Cavaleiro das Trevas, é fácil pensar que aquele filme não pode ser superado. Direção, fotografia, trilha sonora, elenco, tudo, tudo impecável. Um dos meus filmes favoritos, admito.
Mas eis que Nolan presenteia-nos com Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge.
O fim da saga. O ápice da trilogia. O término da lenda.
Mas como se terminar uma lenda?
A resposta é dada por Nolan no decorrer dos 167 minutos de projeção, aquelas famosas "quase 3 horas" que não te deixam piscar. O ritmo do filme é frenético, ápice após ápice, tensão sob tensão.
Na trama, após o fim do segundo filme, com Batman assumindo injustamente a culpa pelos assassinatos de Harvey Dent para não lançar uma imagem ruim ao promotor que representava a esperança de Gotham, Bruce Wayne enfrenta um hiato de 8 anos sem usar novamente o capuz do morcego. Há um clima enganoso de paz no ar, e Wayne esconde-se da sociedade, sumindo misteriosamente. E então, surge Bane, um terrorista que não quer simplesmente semear o caos na cidade: ele quer vê-la explodir (literalmente) em ruínas. Treinado pela Liga das Sombras, Bane mostra-se um adversário a altura (ou superior) ao próprio Batman, pondo Wayne num dilema: até que ponto deve sacrificar-se por sua amada cidade? A ponto de dar sua vida por ela, talvez.
Com algumas explicações para que o expectador se situe logo no início do filme, "...Ressurge" tem um ritmo próprio, similar ao do segundo filme, porém mais trágico.
Há um clima de pessimismo maior. A cada conversa de Alfred com Bruce Wayne sente-se que aquilo terá uma tragédia no fim. Nunca me emocionei tanto num filme de super-heróis como quando sentia a preocupação do mordomo com o patrão, o medo de alguém que não quer perder aquele a quem viu nascer e de quem sempre cuidou.
Os personagens são super bem resolvidos. A história de Bane é chocante, convincente. Assim como a dos personagens secundários. O vilão Bane, não pode ser comparado ao Coringa de Ledger. Tom Hardy consegue extrair emoção sem usar o rosto (já que o personagem respira com o auxilio de uma máscara) e o vilão não tem escrúpulos: um assassino frio e treinado para concluir seu objetivo. Não tem o carisma do Coringa de Ledger, nem os mesmos fins. O Coringa queria ver "o circo pegar fogo", e Bane quer liquidar Gotham. Ambos, excelentes vilões.
Destaque aqui para John Blake (Joseph Gordon-Levitt) em um papel aqui tão interessante como o do próprio protagonista. Outro destaque também, para Selina Kyle/Mulher-Gato (Anne Hathaway) que nos entrega aqui a melhor Mulher-Gato já vista no cinema, em uma interpretação única, cínica, arrebatadora. Impossível não gostar da ladra. As cenas dela com Batman são de uma química incrível, aí entendemos a queda que o Morcegão tem nos quadrinhos.
Aliás, referências aos quadrinhos é o que não falta. Sem querer estragar, mas tem referência ao Crocodilo, Poço de Lázaro e a um personagem muito importante nas histórias do Homem-Morcego.
As cenas que o Batman e a Mulher-Gato lutam juntos são de tirar o fôlego, de calar a boca de quem reclamava que os filmes de Nolan não lembravam em nada os quadrinhos.
De tirar o fôlego também é o clímax do filme, totalmente épico. O final mesmo, sem palavras! Emocionante!
No fim, "..Ressurge" não é só uma aula como fazer filme de heróis, não é só mais uma emocionante história de superação, não é só mais um brinde aos cinéfilos e nerds. O filme é uma obra-prima que fecha com chave de ouro a trilogia de Nolan. Por mim, ganharia até Oscar!
No fim, o gostinho de quero mais é incontrolável, uma vez que um leque de opções abre-se ao universo criado por Nolan. A saudade dos personagens bate. Para os mais fracos, as lágrimas rolam. E o sentimento de eterno agradecimento a Nolan é inevitável.

NOTA MECÂNICA: 9,5

sábado, 30 de junho de 2012

Disque M para Matar



Filmes com crimes "perfeitos" são costume de Hollywood há muito tempo. Mas será que existe mesmo um plano perfeito?
Para Tony Wendice (Ray Milland), sim. E ele passou muito tempo planejando seu crime perfeito.
Sua esposa Margot (Grace Kelly, no primeiro trabalho em parceria com Hitchcock) o está traindo há muito tempo com o famoso escritor de romances policiais Mark (Robert Cummings), e com muito planejamento elabora o "plano perfeito" para matá-la.
Para isso, ele irá contar com um antigo colega de faculdade recém-saído da cadeia, pronto para matar sua esposa em troca de dinheiro. O plano está pronto. É ensaiado meticulosamente. Mas... e quando o assassino é morto pela vítima? Bom... Quando o suposto plano perfeito dá errado, é hora de Wendice usar toda sua inteligência e tentar uma última cartada, num plano B desesperado e ousado.
Aqui, Hitchcock realiza um dos filmes mais simples de sua carreira e um dos melhores, certamente. O próprio diretor na época disse que era só mais um filme rotineiro, nada grandioso. Com certeza deve ter se surpreendido, pois "Disque M para Matar" tornou-se uma de suas obras mais cultuadas.
Realmente, o filme é simples. 90% dele se passa no mesmo cenário, o círculo de personagens se fecha em 4 durante todo o filme, e a trama não é tão complexa. Mas é muito, muito inteligente.
A forma como é narrada, por exemplo, é incomum: o personagem principal é na verdade o "vilão" da história, que de início já conta todo o seu plano de assassinar a esposa ao cúmplice e juntos ensaiam, ensaiam, planejam toda a ação, numa espécie de exibição, de apreciação intelectual, o que nos leva por um momento não só a apreciar o plano de Wendice como também torcer pelo assassino!
Mas e quando o plano dá errado e um detetive entra na história para apurar tudo de perto e começam as desconfianças? Hora de Wendice por sua cabeça para funcionar como que improvisadamente, numa interpretação maquiavélica, fria e cínica de Milland.
E assim o roteiro genial do filme só ganha força e a partir da simplicidade citada antes, só ganha força e mais força, te prendendo cada vez mais, sem saber o que acontecerá aos personagens.
E assim Hitch põe em prática todas as características que o consagraram como o "Mestre do Suspense" nos brindando com uma tensão que só aumenta e que não sabemos como irá acabar. Totalmente imprevisível.
É possível existir um crime perfeito? Em certo momento, o escritor de romances policiais vivido por Cummings põe isso em debate e a conclusão pode ser apreciada na própria trama.

NOTA MECÂNICA: 8,5

A Paixão de Cristo



"Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades. O castigo que nos traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados".
Esse trecho do capítulo 53 do livro do profeta Isaías abre o que talvez seja um dos filmes mais polêmicos dos últimos tempos, idealizado, dirigido, escrito e bancado (sim, saiu do bolso dele a maior parte do dinheiro) por ninguém menos que Mel Gibson.
O filme polemizou, foi acusado de anti-semita, violento desnecessariamente, manipulador.
De fato, a realidade de Cristo mostrada por Gibson na tela é totalmente diferente do Jesus que vemos na semana santa nos filmes da televisão aberta.
Aqui, o negócio é violento, sanguinário, cru. Mas não creio que seja violência gratuita. Creio que seja o esforço máximo para representar o texto que abre o filme. Vamos, releia de novo o versículo 5 de Isaías 53 que citei acima. "Ferido", "moído", "castigo", "pisaduras". Pelos adjetivos usados no texto milenar, podemos concluir que o sacrifício não foram aquelas chicotadelas que vemos nos filmes antigos, que a cada vez que o chicote pega nas costas do Cristo, suja-o um pouquinho de tinta vermelha. O texto usa o termo "moído". O que é  moer? Certamente, Gibson tenta reproduzir isso na tela. E o impacto físico-emocional é grande.
Mas não é só de "moídas" que sustenta-se o filme do diretor de Coração Valente. Com o objetivo de narrar as últimas 12 horas de vida de Jesus de Nazaré, Gibson inicia o filme com um Jesus (Jim Caviezel, milagrosamente perfeito) agonizante, clamando sozinho no Monte das Oliveiras, quase que suando sangue. A fotografia suja, cheia de neblinas, ajuda a mergulhar o telespectador no universo que nos é tão comum mas que é revisitado e recriado de maneira única por Mel. Não é possível que o mais ateu dos homens não sofra em parte com a agonia do protagonista.
Somos apresentados então aos coadjuvantes, todos falando aramaico (quando se trata dos personagens judeus) e latim (quando se trata dos personagens romanos), dando uma realidade absurda ao filme, por mais que debata-se sobre a veracidade dos fatos narrados ali.
Jim está perfeito no papel de Cristo. Interessante como um homem interpretando ninguém menos que o filho de Deus e ainda por cima numa língua morta consegue sair-se tão bem. As falas dos personagens (em sua maioria retiradas da própria Bíblia, fielmente aos Evangelhos) são bem interpretadas, com todo o peso que deveriam ter. O filme em si segue muito as Escrituras, e por mais que você ache que existem personagens ali sem a "profundeza" adequada, acredite, eles não estão ali sem motivo: eles também estão na "fonte".
Um personagem que gostei bastante foi o Judas de Luca Lionello. Ele é exatamente como eu sempre imaginei que Judas seria (ou melhor, estaria naquele momento): um homem pertubado, indeciso, nervoso. Como um homem impulsionado a cometer a maior das traições, mas ainda assim indeciso. A indecisão é tamanha que logo após ver o que fez, suicida-se. Lionello cria um Judas assim. É interessante ver como é a construção do personagem, a jornada dele desde a traição ao suicídio. Outro personagem interessante  - no sentido cinematográfico - é Satanás, interpretado pela atriz e modelo italiana Rosalinda Celentano, de forma assustadoramente forte, peçonhenta, perspicaz. O modo como o personagem tenta a Cristo no Monte das Oliveiras, o modo como tenta mostrar a Jesus que a humanidade não merece tamanha "paixão" é muito bem trabalhado.
Ainda há Maria – mãe de Jesus (Maia Mogenstern) e Madalena (Monica Bellucci), duas personagens interessantes (embora muita gente ache que estavam ali sem propósito) que demonstram de certa forma o sofrimento dos que andavam com ele. Maria era a mãe do condenado (a intimidade dos dois é mostrada em um flashback simpático e bonito, talvez a única cena que nos faça esboçar um sorriso no rosto) e Madalena foi salva por ele (como é mostrado em outro flashback), mostrando que ambas não estão tão sem objetivo na história cinematograficamente falando, já que na Bíblia elas também estão presentes.
Aliás, os flashbacks são pontos bastante interessantes do filme. Eles mostram um paralelo entre o Jesus ali desfigurado e outro Jesus, o mestre, o filho, o milagroso. É interessante ver as comparações e diferenças na fotografia que realçam os diversos momentos na vida do Cristo.
E entre flashbacks, slow motions e música super bem composta (arrebatadora!), Gibson consegue emocionar. Arrancar lágrimas. Matar, como aconteceram casos na época em que o filme estava em cartaz. Enfartos causados por emoções prolongadas. O filme é assim.
Entre fatos históricos, fatos bíblicos, cenas cruas e representativas (como a serpente sendo esmagada por Jesus), Gibson cumpre seu objetivo muito bem, realizando pra mim o melhor filme sobre Cristo feito até os dias de hoje.
Não creio que ele seja anti-semita, violento por natureza (nada comparado a Tarantino, por exemplo) ou manipulador (na tentativa de comover as pessoas). Creio que ele seja a mais bela tentativa de retratar o mais belo dos sacrifícios feito pelo mais belo e importante ser que já existiu.
A Paixão de Cristo é um filme arrebatador. Gibson nos pega pelo braço e nos larga em Jerusalém, com o coração batendo forte, sofrendo a cada chicotada, fechando os olhos pra não ver o sofrimento. E o mais interessante de tudo, é que no fim, terminamos sem conhecer a tal 'Paixão' do título. Ela é inexplicável...


NOTA MECÂNICA: 10.0



sexta-feira, 29 de junho de 2012

Janela Indiscreta



Um fotógrafo (James Stewart) quebra a perna durante o serviço. É então fadado a ficar em casa de licença, sem fazer absolutamente nada, recebendo as visitas de uma enfermeira diariamente e sem contatos com o mundo exterior, sem ao menos poder sair à rua. Então começa a ter o estranho costume de passar suas horas (ou melhor, seus dias) observando a vida dos vizinhos, pela janela com um binóculo.
A história é simples, não é mesmo? Hitchcock consegue transforma-la em algo grandioso. Ao primeiro olhar, temos um filme onde 90% dele se passa no mesmo cenário: a sala de estar do personagem principal. Mas, para demonstrar um pouco da genialidade de Hitch, e se eu disser que o fotógrafo começa a notar algo de estranho no comportamento de seus vizinhos? E se o vizinho dele for um assassino que matou friamente a esposa, esquartejou seu corpo e deu sumiço total?
Hitch nos lança numa atmofesra de completo suspenso a partir de uma premissa simples, onde o fotógrafo numa espécie de fetish voyer vê coisas suspeitas e cria uma teoria conspiratória que pode estar 100% certa. Ou não. A questão é que somos lançados na paranóia de Jeff (Stewart), que ainda consegue incluir sua namorada Lisa (a bela Grace Kelly, em mais um papel em parceria com Hitch) e a enfermeira, colocando ambas para participar de seus delírios ou suspeitas sobre o vizinho, Lars Thorwald (Raymond Burr, presente nas horas certas).
Até que chega o amigo detetive de Jeff, Thomas J. Doyle (Wendell Corey) e prova que são coisas da cabeça de Jeff, que há explicações plausíveis para a mulher ter sumido, Lars sair com malas de madrugada, entre outras. Será que Jeff está mesmo enganado?
Com uma premissa simples e uma direção majestosa, Alfred Hitchcock te pega pelo braço e te joga no mundo fechado de Jeff, durante os 100 minutos de filme dentro daquele quarto, em clima de voyerismo e profundo suspense.
Com o tempo, o mistério aumenta até culminar no surpreendente final. Mais uma vez é Hitchcock fazendo arte. Uma coisa que amo nos flmes de Hitch mas que adoro nesse em particular: os diálogos. É delicioso ver as conversas de Jeff com a enfermeira, e interessante o modo com o personagem de Stewart gosta de Lisa, a garota rica que é apaixonada por ele, mas não tem medo de compromisso.
Trilha sonora, fotografia, roteiro, elenco e principalmente direção, tudo com a qualidade de Hitch, que mais uma vez surpreende.
É incrível como o filme começa pequeno, simples, bem-humorado, talvez monótono. Com o passar de uns 30 minutos, bang!: bem-vindo ao mundo do mestre do suspense.
Mais um filme imperdível. Recomendadíssimo!

NOTA MECÂNICA: 9,0

terça-feira, 26 de junho de 2012

Trainspotting



Trainspotting (Sem Limites) é um filme de 1996 dirigido por Danny Boyle, bastante polêmico, devido ao consumo de drogas e sua suposta apologia (bastante subjetivo). O filme foi indicado ao Oscar 1997 por melhor roteiro adaptado e ao Independent Spirit Award, por melhor filme estrangeiro entre outras premiações.
Conta a história de cinco amigos: Renton (Ewan McGregor), Spud (Ewen Bremner) , Sick-Boy (Jonny Lee Miller), Tommy (Kevin McKidd) e Begbie (Robert Carlyle), que são jovens escoceses viciados em heroína e descontentes com o modelo socioeconômico e politico da sua nação além dos moldes que eles vão de encontro.  O filme relata o que seria o dia-a-dia punk desses jovens na década de 90 com ascensão das drogas e da vida noturna conturbada com um leve toque de homossexualismo.

Os detalhes técnicos do filme são extremamente interessantes, entre eles, o estilo de filmagem e a trilha sonora são os que em minha opinião mais se destacam, por exemplo, as “viagens” de Renton, no tapete da “Madre Superiora” (Ponto de venda de droga), além de elementos que fazem referencia a outros filmes como Taxi Driver, o corredor do bar que remete a cena do Laranja Mecânica onde Alex bebe leite com sua trupe, o desespero de Renton ao colocar um supositório de heroína (todos sabemos onde) e depois defecar.
O roteiro é muito bem “amarrado”, dando clareza às motivações das ações, deixando claro o diferencial de cada personagem, pela forma de lidarem com as situações entre outros elementos e além do mais sem perder a oportunidade  de aplicar as influencias dos outros filmes principalmente para os espectadores mais ligados.
As atuações são primorosas, por exemplo, Renton (Ewan McGregor) não é um drogado estilo “malhação”, dá pra ver que houve um comprometimento um carinho a mais na atuação, fora o sotaque escocês que cai perfeitamente. Mas o personagem que sem duvida me deixou mais impressionado foi o interpretado por (Jonny Lee Miller) Sick-boy (cara, todo mundo queria ter um amigo como ele!), percebe-se que a criatividade e talento não faltaram ao adaptador/diretor nem ao ator, mas isso se reflete a todos os personagens, cada um da sua maneira, seja ao “brigão” Begbie ao atleta promissor Tommy, basicamente eles  ilustram os tipos de jovens daquela época com seus diferentes pontos de vista sobre um vertente comum o uso das drogas.
Referencias que eu pude encontrar no filme: Laranja mecânica, Taxi driver, Três Homens em conflito, ou seja, filmes que eu amo de paixão.



Muito bom filme, apesar das criticas duras (das personalidades da época), eu achei primoroso.

NOTA MECÂNICA: 8.7

domingo, 3 de junho de 2012

O Anjo Exterminador



O surrealismo sempre foi uma das mais famosas formas diversificadas de se expressar artisticamente. Podemos vê-lo principalmente na pintura e na literatura. Hoje, é incomum vê-lo voluntariamente em um filme, tirando algumas exceções como Sucker Punch.
Quando pensamos em surrealismo na sétima arte, sempre vem um curioso filme em mente,  O Anjo Exterminador (1962), de Luis Buñuel. Filme mexicano clássico, é o ápice do surrealismo nas telonas, um conjunto de situações e códigos aparentemente sem sentido, mas que podem fazer algum para os mais observadores, criando algo que o próprio Zack Snyder tentou fazer com seu Sucker Punch citado acima: a possibilidade de diferentes interpretações, sem uma que seja a verdadeira.
A premissa é aparentemente simples: um grupo da burguesia aristocrata é convidado para um jantar, logo após a uma ópera. O que acontece, é que de repente, eles não conseguem mais sair da sala onde estão, simplesmente parece que não se lembram mais, ficando presos lá. Tem então o início do cair das máscaras, onde todos, confinados por semanas, começam a mostrar realmente quem são por trás de tanta etiqueta e postura, revelando seus lados mais obsuros, desejos e atitudes selvagens, carnais, secretas.
A narrativa não trata de revelar muita coisa não. As coisas simplesmente... Acontecem. Não sabemos as relações entre os 20 convidados presentes, não sabemos porque os criados foram embora, e afinal, quem é ou o que é esse tal de “anjo exterminador”? Por que os convidados ficaram presos? O surrealismo entra, a mente de Buñuel começa a funcionar, e vemos ali muito mais do que uma crítica à sociedade: vemos ali um conjunto de mensagens pinceladas como arte, ponto ápice do surrealismo cinematográfico. No entender do próprio Buñuel, em sua biografia, ele avalia que o filme é um estudo sobre a vontade: o que faz alguém caminhar para alguma direção ou mover um braço, por exemplo?
São diversas críticas à sociedade, à política e à Igreja (os cordeiros andando pela mansão, sendo devorados pelos convidados famintos, a frase “Sou ateu, graças a Deus”, entre outros exemplos), características de Buñuel, que sobre o tema, falou: "A moral burguesa é, para mim, uma imoralidade contra a qual há de se lutar; esta moral que se baseia em nossas instituições sociais mais injustas como o são a religião, a pátria, a família e a cultura, em suma, o que se denomina os pilares da sociedade”.
Durante a película, personagens morrem, brigam, amam-se, comem papel, abrem um encanamento na falta de água e aparentemente praticam canibalismo. Entre todos os acontecimentos, pedaços e mais pedaços de surrealismo jogados aqui e ali, aparentemente sem explicação. Quem aventura-se a tentar entender a mulher que possui uma pata de galinha na bolsa; a dona da casa que tem um urso de estimação; homens se comunicando por sinais secretos; a virgem jogando uma pedra na janela; etc.
O filme é composto por detalhes, que reforçam a crítica à ilusão em que a sociedade é submersa. Podemos resumir simplesmente analisando a cena final, burguesia e clero preso numa igreja, o povo apanhando da polícia por fora e o sino badalando chamando "as ovelhas de deus" para a sacristia, enquanto o comodismo que prendeu-os novamente assola e reinicia o ciclo. Verdadeiramente, um filme para poucos, pouquíssimos. Um excelente filme, nada convencional, que pode impressionar, enojar, enjoar. Uma obra surrealista crítica, disfarçada de cinema clássico.

NOTA MECÂNICA: 8,5

Bastardos Inglórios




Quentin Tarantino é um dos diretores mais controversos atualmente no mundo da sétima arte. Para alguns, é um grande diretor, promessa de muitos filmes excelentes pela frente, autor de obra-primas como "Pulp Fiction" e "Cães de Aluguel" . Para outros, é mais um exibicionista, um tarado por pés que ama pôr violência gratuita em seus filmes.

Se havia dúvida, porém da genialidade de Tarantino, creio que essa dúvida possa ser tirada em Bastardos Inglórios, filme que dirigiu em 2009 e que embora ainda divida opiniões, não pode-se negar da genialidade e do espírito pop/nerd de Quentin, que cria uma história própria com estilo próprio em plena Segunda Guerra Mundial.

 
No primeiro ano da ocupação da França pela Alemanha, Shosanna Dreyfus ( Mélanie Laurent ) testemunha a execução de sua família pelas mãos do coronel nazista Hans Landa ( ChristophWaltz, com certeza, o melhor em cena. Explêndido! ). Shosanna escapa por pouco e parte para Paris, onde assume uma identidade falsa e se torna proprietária de um cinema. Em outro lugar da Europa, o tenente Aldo Raine ( Brad Pitt, caricato, cínico e inspirado na medida certa ) organiza um grupo de soldados americanos judeus para praticarem atos violentos de vingança. Posteriormente chamados pelo inimigo de “os Bastardos”, o esquadrão de Raine se une à atriz alemã Bridget von Hammersmark ( Diane Kruger ) em uma missão para derrubar os líderes do Terceiro Reich. O destino conspira para que os caminhos de todos se cruzem em um cinema, onde Shosanna pretende colocar em prática seu próprio plano de vingança...
 
O filme é uma obra-prima de Tarantino, não tem como se duvidar. Foi indicato a vários prêmios (incluindo o Oscar de Melhor Filme), e muito falado em várias mídias, como uma promessa do retorno de Tarantino às telonas. O que vemos na película, é um amadurecimento de Tarantino,  se alguém achava que a violência era gratuita, aqui ela está moderada, vindo e impactando nos momentos corretos. O que vemos também em tela são mais uma vez diálogos super bem escritos, locações extraordinarias e situações memoráveis. A trilha sonora de Ennio Morricone é soberba, e muito bem encaixada. Sobre o filme, é importante ressaltar que não vemos mais um filme contando uma missão suicida pra matar o fuhrer. Não, vemos um filme da segunda guerra à la Tarantino, com comédia, referências western, nerds, música boa e personagens muito, mas muito bons!
 
Pitt dá um show. Eu que nunca fui muito fã de seu trabalho (pra mim, um canastrão a mais no mundo do cinema), aqui pude me divertir com seu personagem, que logo após o coronel Hans Landa é o meu favorito. Aliás, o Hans é vilão, mas o mais carismático do filme. É perverso, miserável, cínico, monstro. Tarantino não esconde as faces do personagem de Walts, que ganhou prêmios de Melhor Ator Coadjuvante nos principais festivais cinematográficos ( Oscar, Globo de Ouro, BAFTA, Cannes) e com certeza, é o melhor em cena, fazendo o tipo de vilão que mais gosto: aquele que é tão ruim, que acabamos gostando dele, aquele que adoramos odiar.

Outra coisa que gostei muito no filme: o suspense. Durante toda a película há um clima de suspense, de pessimismo, que nos faz passar o filme inteiro sabendo que vai acontecer alguma coisa ali, querendo saber, e sendo surpreendidos a cada instante. Desde a cena inicial, somos levados a ficar com o coração batendo acelerado, o que irá acontecer após aquele longo diálogo? Diálogos esses que permeiam o filme muito bem, sempre com uma dose de ironismo e sarcasmo que amo.
Personagens excelentes, diálogos afiados, humor na medida certa, violência precisa, clima pessimista, e nazistas sem escrúpulos fazem do filme uma obra-prima da sétima arte e também um divertíssimo filme sobre a Segunda Guerra. E nem te conto o final pra lá de inesperado e recompensador!


NOTA MECÂNICA: 9,5


 

domingo, 27 de maio de 2012

Mãos Talentosas




Filmes que contam a biografia de alguém são bastante comuns, não só em Hollywood mas também no Brasil (“2 Filhos de Francisco”, “Lula – O Filho do Brasil”, “Heleno – O Princípe Maldito”, entre outros). Eles enchem salas, principalmente se tiverem atores famosos, e embora digam que o filme é todo baseado em fatos reais, muitas vezes vemos que tem muita coisa ali fantasiosa, fruto da imaginação de um ser chamado roteirista, que além de ganhar dinheiro quer emocionar o público. Mas e daí? É disso que o povo gosta!
Eu particularmente gosto de dois desses filmes em particular, Uma Mente Brilhante, com Russel Crowe e Homens de Honra, com Cuba Gooding Jr. Aliás, o velho Cuba também é o astro que estrela Mãos Talentosas, filme de 2009, dirigido por Thomas Carter, e que conta uma interessante história de vida, mas não de uma forma tão interessante assim.
O filme conta a história de Benjamin Carson, um renomado neurocirurgião - precursor da hemisferectomia (remoção cirúrgica da metade afetada do cérebro) -, que, através dos esforços próprios e principalmente de sua mãe, contrariou o "senso comum" e tornou-se um dos mais importantes neurocirurgiões do mundo.
A direção de Carter é interessante, ele faz vários cortes inusitados, que ligam diversas cenas através de atos comuns, como um abrir/fechar de portas em tempos diferentes, mas que são editados juntos, mostrando algo diferente, mas não tão revolucionário assim.
A história é muito bacana. Carson realmente foi um exemplo de superação. Vivendo com seu irmão mais velho e sua mãe solteira, com problemas nas matérias quando criança, através dos esforços de sua mãe, aprende o gosto pela leitura e começa a reverter o quadro de suas notas baixas na escola. Na adolescência há uns deslizes de conduta, por conta de amizades ruins, mas logo volta ao “caminho certo”. Por fim, vai para a faculdade, vira neurocirurgião e até mesmo no ambiente de trabalho ainda sobre, com os nossos velhos amigos dos filmes biográficos com personagens negros: racismo e bulliyng.
Por muitas vezes, clichê e até mesmo piegas (numa tentativa de parecer emotivo e frustrante totalmente, uma vez que o filme tenta seguir o mesmo caminho de outros do gênero e emocionar mas não consegue arrancar nem uma lágrima), o roteiro de John Pielmeier tem objetivos concretos e isso por incrível que pareça o atrapalha.
É frustrante ver tantos saltos no tempo para mostrar a vida de Carson acabando inconclusos. Como aquele menino tão doce e tão genial acaba pegando um martelo para bater na própria mãe de uma hora pra outra? Não aconteceu nada? Por que ele compra aquela faca? Onde arranjou dinheiro se eles passam dificuldades? E o “amigo” em que ele enfia a faca. Não tentou se vingar? Uma oração mostrando arrependimento é o bastante pra Bem rapidinho mudar de vida e andar pra sempre no “caminho certo”? São alguns furos que acabam ficando por conta de o roteiro querer resumir a vida do cara toda em apenas 90 minutos de filme, o que, para os mais críticos como eu, pode tornar-se um saco.
A direção de Carter não compromete, nem o roteiro de Pielmeier, exceto nessas situações que citei: os pulos na história da vida do cara, tornando tudo “fácil” e “artificial” demais e a tentativa infrutífera de emocionar, característica de tais filmes, mas que perde força aqui. Antes não tivesse tentado.
Ao ler esta crítica, talvez você ache que o filme seja ruim, ou que não valha a pena assisti-lo. Digo que assista, principalmente se gosta desse tipo de filmes baseado em fatos reais. A história de Carson é um prato cheio sobre persistência, superação e fé. Há alguns momentos engraçados, o ritmo do filme é bem leve, próprio para ser assistido em família. Talvez o terceiro ato você já esteja cansado, assim como os cirurgiões ao passar 22 horas numa sala de cirurgias, mas realmente o filme vale a pena. Bela história, boas atuações, excelente trilha sonora e clichês típicos desse tipo de filme, valem a diversão. Recomendado.

NOTA MECÂNICA: 8,0