domingo, 3 de junho de 2012

O Anjo Exterminador



O surrealismo sempre foi uma das mais famosas formas diversificadas de se expressar artisticamente. Podemos vê-lo principalmente na pintura e na literatura. Hoje, é incomum vê-lo voluntariamente em um filme, tirando algumas exceções como Sucker Punch.
Quando pensamos em surrealismo na sétima arte, sempre vem um curioso filme em mente,  O Anjo Exterminador (1962), de Luis Buñuel. Filme mexicano clássico, é o ápice do surrealismo nas telonas, um conjunto de situações e códigos aparentemente sem sentido, mas que podem fazer algum para os mais observadores, criando algo que o próprio Zack Snyder tentou fazer com seu Sucker Punch citado acima: a possibilidade de diferentes interpretações, sem uma que seja a verdadeira.
A premissa é aparentemente simples: um grupo da burguesia aristocrata é convidado para um jantar, logo após a uma ópera. O que acontece, é que de repente, eles não conseguem mais sair da sala onde estão, simplesmente parece que não se lembram mais, ficando presos lá. Tem então o início do cair das máscaras, onde todos, confinados por semanas, começam a mostrar realmente quem são por trás de tanta etiqueta e postura, revelando seus lados mais obsuros, desejos e atitudes selvagens, carnais, secretas.
A narrativa não trata de revelar muita coisa não. As coisas simplesmente... Acontecem. Não sabemos as relações entre os 20 convidados presentes, não sabemos porque os criados foram embora, e afinal, quem é ou o que é esse tal de “anjo exterminador”? Por que os convidados ficaram presos? O surrealismo entra, a mente de Buñuel começa a funcionar, e vemos ali muito mais do que uma crítica à sociedade: vemos ali um conjunto de mensagens pinceladas como arte, ponto ápice do surrealismo cinematográfico. No entender do próprio Buñuel, em sua biografia, ele avalia que o filme é um estudo sobre a vontade: o que faz alguém caminhar para alguma direção ou mover um braço, por exemplo?
São diversas críticas à sociedade, à política e à Igreja (os cordeiros andando pela mansão, sendo devorados pelos convidados famintos, a frase “Sou ateu, graças a Deus”, entre outros exemplos), características de Buñuel, que sobre o tema, falou: "A moral burguesa é, para mim, uma imoralidade contra a qual há de se lutar; esta moral que se baseia em nossas instituições sociais mais injustas como o são a religião, a pátria, a família e a cultura, em suma, o que se denomina os pilares da sociedade”.
Durante a película, personagens morrem, brigam, amam-se, comem papel, abrem um encanamento na falta de água e aparentemente praticam canibalismo. Entre todos os acontecimentos, pedaços e mais pedaços de surrealismo jogados aqui e ali, aparentemente sem explicação. Quem aventura-se a tentar entender a mulher que possui uma pata de galinha na bolsa; a dona da casa que tem um urso de estimação; homens se comunicando por sinais secretos; a virgem jogando uma pedra na janela; etc.
O filme é composto por detalhes, que reforçam a crítica à ilusão em que a sociedade é submersa. Podemos resumir simplesmente analisando a cena final, burguesia e clero preso numa igreja, o povo apanhando da polícia por fora e o sino badalando chamando "as ovelhas de deus" para a sacristia, enquanto o comodismo que prendeu-os novamente assola e reinicia o ciclo. Verdadeiramente, um filme para poucos, pouquíssimos. Um excelente filme, nada convencional, que pode impressionar, enojar, enjoar. Uma obra surrealista crítica, disfarçada de cinema clássico.

NOTA MECÂNICA: 8,5

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, nos diga o que achou da crítica, nos conte sua opinião sobre o filme e participe desta Pipoca!