É impressionante como a arte consegue extrair as mais diferentes visões e opiniões das pessoas. Em uma pinacoteca, por exemplo, sempre existirá aquele quadro com arte abstrata que despertará diferentes opiniões: para alguns, aquilo ali representará o amor, a forma do pintor de se expressar, o calor da paixão. Para outros, um monte de rabiscos feito com tintas de cores quentes, formando um emaranhado de cores. Com cinema não é diferente. Como exemplo disso, temos “Blade Runner – O Caçador de Andróides”, filme de 1982, dirigido pelo inglês Ridley Scott.
Há quem deteste o filme, ache-o monótono, confuso e sombrio. Mas também há os que o consideram o melhor filme já feito, com ação, mistério e muita história. Não quero falar de nenhuma das duas opiniões. Falemos da minha. Mas antes disso, confira a sinopse:
No início do século XXI, uma grande corporação desenvolve um robô que é mais forte e ágil que o ser humano e se equiparando em inteligência. São conhecidos como replicantes e utilizados como escravos na colonização e exploração de outros planetas. Mas, quando um grupo dos robôs mais evoluídos provoca um motim em uma colônia fora da Terra, este incidente faz os replicantes serem considerados ilegais na Terra, sob pena de morte. A partir de então, policiais de um esquadrão de elite, conhecidos como Blade Runners, têm ordem de atirar para matar (“aposentar” é o termo técnico) os replicantes encontrados na Terra. É nessa decadente Terra que vive o detetive Deckard, interpretado por Harrison Ford. Ele é convocado por seus superiores a realizar um último trabalho, que é “aposentar” quatro replicantes, que fugiram à cidade após uma rebelião em um sistema estelar. O detalhe é que essa geração de andróides é o mais próximo que os humanos chegaram da perfeição robótica. Além de serem dotados de grande inteligência, agilidade e força física, os replicantes têm um objetivo a ser alcançado: A busca por mais tempo de vida.
E é aí, que a trama desenrola. O filme é confuso? É muito confuso em um primeiro olhar. Eu mesmo confesso que não pude sacar tudo ao assistir pela primeira vez. Na verdade, fiquei “boiando” nos primeiros 30 minutos de filme, sem entender bulhufas nenhuma. Mas aí, quando menos percebe-se, você já está imerso no universo do filme, que é baseado no livro Do Androids Dream of Eletric Sheep? DePhilipe K. Dick, escritor de Minority Report, livro em que baseou-se Spielberg para fazer o também excelente “Minority Report – A Nova Lei”.
O universo criado no filme impressiona pela beleza dos prédios no estilo barroco, das naves, das colunas de fumaça e das chamativas luzes neón. O filme, sem dúvida, é uma obra de arte. Elenco muito bem escolhido, visual grandioso e trilha sonora estupenda, composta por Vangelis em um de seus dias mais inspirados, com certeza, pois a música cai certeira no clima noir do filme. Falando em noir, não sei se vocês sabem, mas os filmes noir da década de 40 são os meus favoritos. Simplesmente eu amo aquele estilo, assim como amei “Sin City”, “The Spirit” entre outros neo-noir. Mas Blade Runner, não é só um neo-noir. Arrisco-me a criar um novo sub-gênero, intitulado techno-noir, onde não só Blade Runner se encaixa, mas também “Eu, Robô” e “Minority Report” ambos com certeza inspirados pelo filme em questão.
Agora vamos aos ‘contras’ do filme. Como já falei, é um filme confuso, tanto que na primeira edição final, foi exigido pelo estúdio que o filme tivesse uma narração em off na voz de Harrison Ford para que o público entendesse melhor a complexa trama ali exposta. Bom, pelo menos ela é retratada inicialmente de forma complexa. Não há nenhuma simpatia com o personagem principal e o Deckard é tão pífio que você não sabe se é uma horrível interpretação de Ford ou justamente o contrário. Piadas de humor negro à parte, Ford interpreta, muito bem, mas sem esforço, por assim dizer. Também, com um personagem daqueles…
Há também outra coisa que observei: há uma certa necessidade de tornar o filme com temática mais adulta, que há uma violência exposta (não que seja forte, mas que poderia se quisessem ser extraída ou poupados alguns litros de sangue) e uns certos seios aparecendo, que, convenhamos, sem necessidade. Podemos ver que naquela época, já havia essa estratégia de chamar a atenção dos marmanjos. Mas, nada que venha escandalizar ou desmerecer o filme, tá gente? São só observações minhas que você nem deve considerar muito.
Resumindo o filme é bom, complexo, bonito visualmente (a cidade parece uma mistura de Tron com Gotham City), grande elenco, trilha sonora belíssima, e um final simplesmente chocante (refiro-me à versão “Director’s Cut”, porque tem uma que o estúdio retirou nudez, sangue, pôs a narração em off que citei e ainda mudou o fim, colocando um “final feliz”. Enfim, pintou o sete com o Ridley e deixou o cara zangado, né?).
Todas as qualidades acima contribuíram para que Blade Runner tenha se tornado um filme cult, patrimônio da humanidade de cinéfilos, base para tudo quando é filme futurista de hoje em dia, referência para os nerds de plantão, e acima de tudo, um daqueles filmes que merecem ser assistido várias e várias vezes, e pásmen: sem enjoar!
NOTA MECÂNICA: 9,0
NOTA MECÂNICA: 9,0
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