domingo, 27 de maio de 2012

Mãos Talentosas




Filmes que contam a biografia de alguém são bastante comuns, não só em Hollywood mas também no Brasil (“2 Filhos de Francisco”, “Lula – O Filho do Brasil”, “Heleno – O Princípe Maldito”, entre outros). Eles enchem salas, principalmente se tiverem atores famosos, e embora digam que o filme é todo baseado em fatos reais, muitas vezes vemos que tem muita coisa ali fantasiosa, fruto da imaginação de um ser chamado roteirista, que além de ganhar dinheiro quer emocionar o público. Mas e daí? É disso que o povo gosta!
Eu particularmente gosto de dois desses filmes em particular, Uma Mente Brilhante, com Russel Crowe e Homens de Honra, com Cuba Gooding Jr. Aliás, o velho Cuba também é o astro que estrela Mãos Talentosas, filme de 2009, dirigido por Thomas Carter, e que conta uma interessante história de vida, mas não de uma forma tão interessante assim.
O filme conta a história de Benjamin Carson, um renomado neurocirurgião - precursor da hemisferectomia (remoção cirúrgica da metade afetada do cérebro) -, que, através dos esforços próprios e principalmente de sua mãe, contrariou o "senso comum" e tornou-se um dos mais importantes neurocirurgiões do mundo.
A direção de Carter é interessante, ele faz vários cortes inusitados, que ligam diversas cenas através de atos comuns, como um abrir/fechar de portas em tempos diferentes, mas que são editados juntos, mostrando algo diferente, mas não tão revolucionário assim.
A história é muito bacana. Carson realmente foi um exemplo de superação. Vivendo com seu irmão mais velho e sua mãe solteira, com problemas nas matérias quando criança, através dos esforços de sua mãe, aprende o gosto pela leitura e começa a reverter o quadro de suas notas baixas na escola. Na adolescência há uns deslizes de conduta, por conta de amizades ruins, mas logo volta ao “caminho certo”. Por fim, vai para a faculdade, vira neurocirurgião e até mesmo no ambiente de trabalho ainda sobre, com os nossos velhos amigos dos filmes biográficos com personagens negros: racismo e bulliyng.
Por muitas vezes, clichê e até mesmo piegas (numa tentativa de parecer emotivo e frustrante totalmente, uma vez que o filme tenta seguir o mesmo caminho de outros do gênero e emocionar mas não consegue arrancar nem uma lágrima), o roteiro de John Pielmeier tem objetivos concretos e isso por incrível que pareça o atrapalha.
É frustrante ver tantos saltos no tempo para mostrar a vida de Carson acabando inconclusos. Como aquele menino tão doce e tão genial acaba pegando um martelo para bater na própria mãe de uma hora pra outra? Não aconteceu nada? Por que ele compra aquela faca? Onde arranjou dinheiro se eles passam dificuldades? E o “amigo” em que ele enfia a faca. Não tentou se vingar? Uma oração mostrando arrependimento é o bastante pra Bem rapidinho mudar de vida e andar pra sempre no “caminho certo”? São alguns furos que acabam ficando por conta de o roteiro querer resumir a vida do cara toda em apenas 90 minutos de filme, o que, para os mais críticos como eu, pode tornar-se um saco.
A direção de Carter não compromete, nem o roteiro de Pielmeier, exceto nessas situações que citei: os pulos na história da vida do cara, tornando tudo “fácil” e “artificial” demais e a tentativa infrutífera de emocionar, característica de tais filmes, mas que perde força aqui. Antes não tivesse tentado.
Ao ler esta crítica, talvez você ache que o filme seja ruim, ou que não valha a pena assisti-lo. Digo que assista, principalmente se gosta desse tipo de filmes baseado em fatos reais. A história de Carson é um prato cheio sobre persistência, superação e fé. Há alguns momentos engraçados, o ritmo do filme é bem leve, próprio para ser assistido em família. Talvez o terceiro ato você já esteja cansado, assim como os cirurgiões ao passar 22 horas numa sala de cirurgias, mas realmente o filme vale a pena. Bela história, boas atuações, excelente trilha sonora e clichês típicos desse tipo de filme, valem a diversão. Recomendado.

NOTA MECÂNICA: 8,0

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