Filmes que contam a biografia de alguém são bastante comuns, não
só em Hollywood mas também no Brasil (“2 Filhos de Francisco”, “Lula – O Filho
do Brasil”, “Heleno – O Princípe Maldito”, entre outros). Eles enchem salas,
principalmente se tiverem atores famosos, e embora digam que o filme é todo
baseado em fatos reais, muitas vezes vemos que tem muita coisa ali fantasiosa,
fruto da imaginação de um ser chamado roteirista, que além de ganhar dinheiro
quer emocionar o público. Mas e daí? É disso que o povo gosta!
Eu particularmente gosto de dois desses filmes em particular, Uma
Mente Brilhante, com Russel Crowe e Homens de Honra, com Cuba Gooding Jr.
Aliás, o velho Cuba também é o astro que estrela Mãos Talentosas, filme de 2009,
dirigido por Thomas Carter, e que conta uma interessante história de vida, mas
não de uma forma tão interessante assim.
O filme conta a história de Benjamin Carson, um renomado
neurocirurgião - precursor da hemisferectomia (remoção cirúrgica da metade
afetada do cérebro) -, que, através dos esforços próprios e principalmente de
sua mãe, contrariou o "senso comum" e tornou-se um dos mais
importantes neurocirurgiões do mundo.
A direção de Carter é interessante, ele faz vários cortes
inusitados, que ligam diversas cenas através de atos comuns, como um
abrir/fechar de portas em tempos diferentes, mas que são editados juntos,
mostrando algo diferente, mas não tão revolucionário assim.
A história é muito bacana. Carson realmente foi um exemplo de
superação. Vivendo com seu irmão mais velho e sua mãe solteira, com problemas
nas matérias quando criança, através dos esforços de sua mãe, aprende o gosto
pela leitura e começa a reverter o quadro de suas notas baixas na escola. Na
adolescência há uns deslizes de conduta, por conta de amizades ruins, mas logo
volta ao “caminho certo”. Por fim, vai para a faculdade, vira neurocirurgião e
até mesmo no ambiente de trabalho ainda sobre, com os nossos velhos amigos dos
filmes biográficos com personagens negros: racismo e bulliyng.
Por muitas vezes, clichê e até mesmo piegas (numa tentativa de
parecer emotivo e frustrante totalmente, uma vez que o filme tenta seguir o
mesmo caminho de outros do gênero e emocionar mas não consegue arrancar nem uma
lágrima), o roteiro de John Pielmeier tem objetivos concretos e isso por
incrível que pareça o atrapalha.
É frustrante ver tantos saltos no tempo para mostrar a vida de
Carson acabando inconclusos. Como aquele menino tão doce e tão genial acaba
pegando um martelo para bater na própria mãe de uma hora pra outra? Não
aconteceu nada? Por que ele compra aquela faca? Onde arranjou dinheiro se eles
passam dificuldades? E o “amigo” em que ele enfia a faca. Não tentou se vingar?
Uma oração mostrando arrependimento é o bastante pra Bem rapidinho mudar de
vida e andar pra sempre no “caminho certo”? São alguns furos que acabam ficando
por conta de o roteiro querer resumir a vida do cara toda em apenas 90 minutos
de filme, o que, para os mais críticos como eu, pode tornar-se um saco.
A direção de Carter não compromete, nem o roteiro de Pielmeier,
exceto nessas situações que citei: os pulos na história da vida do cara,
tornando tudo “fácil” e “artificial” demais e a tentativa infrutífera de
emocionar, característica de tais filmes, mas que perde força aqui. Antes não
tivesse tentado.
Ao ler esta crítica, talvez você ache que o filme seja ruim, ou
que não valha a pena assisti-lo. Digo que assista, principalmente se gosta
desse tipo de filmes baseado em fatos reais. A história de Carson é um prato
cheio sobre persistência, superação e fé. Há alguns momentos engraçados, o
ritmo do filme é bem leve, próprio para ser assistido em família. Talvez o
terceiro ato você já esteja cansado, assim como os cirurgiões ao passar 22
horas numa sala de cirurgias, mas realmente o filme vale a pena. Bela história,
boas atuações, excelente trilha sonora e clichês típicos desse tipo de filme,
valem a diversão. Recomendado.
NOTA MECÂNICA: 8,0
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