segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Toy Story 3



Antes de começar a comentar o filme, quero pedir adiantadamente desculpas a vocês. Não irei tratar este como mais um filme. Irei trata-lo como um pedaço de minha vida. Não estarão lendo nas próximas linhas uma crítica de um cinéfilo e sim de um apaixonado por Toy Story. Perdoem se eu não julgar o filme com o raciocínio. Estou fazendo-o com o coração.
Toy Story foi o pioneiro nas animações computadorizadas. Em plenos 1995, a Pixar (ainda braço direito da Lucas Film) lançara uma animação com ideia original, a história dos brinquedos! Animação essa, que John Lasseter, o diretor, disse ser uma homenagem a seus próprios brinquedos, que tantas vezes o levaram a um mundo de imaginação, quando criança.
De certa forma, isso faz parte de mim também. Ganhei o VHS quando guri, e aquele era o meu filme favorito. Até hoje coleciono milhares (é sério) de miniaturas, e naquela época já tinha muitas. Lembro que eu assistia ao filme várias vezes, sempre com meu Woody e meu Buzz do lado. E brincava de que eles tinham vida. E fazia vários "filmes", me sentindo o próprio Andy!
Então, veio Toy Story 2 (1999). Era a Pixar lançando sua primeira continuação, mostrando que a qualidade não caíra e que sabiam superar-se. Mais uma vez, pude me ver na história. VHS comprado e uma parte da infância identificada.
Eis que em 2010 a Pixar (agora da Disney) decide fazer mais um (talvez o último?) capítulo da saga dos brinquedos: Toy Story 3 veio com tudo, ganhando indicação a Oscar de Melhor Filme (algo raríssimo para o padrão da Academia) e ganhando, claro, a estatueta de Melhor Animação.
Me lembro de ir ao cinema cheio de expectativa e sair de lá com a certeza de que elas foram superadas. Agora não era mais uma parte da infância retratada ali. Era a vida. Era pessoal.
O terceiro capítulo da saga passa-se 10 anos após o primeiro filme. Andy, o dono dos brinquedos cresceu e irá para a Faculdade. Precisa então decidir o que irá fazer com os brinquedos: leva-los ao porão? Doa-los? Por idas e vindas do destino, os brinquedos encontrarão mais desventuras do que esperam. E aí, o território propício à imaginação da Pixar está pronto. Toy Story 3 não é em nenhum momento clichê, desmotivador, monótono. Antes, sempre se reinventa, por meio de reviravoltas inimagináveis e uma trama consistente, com uma carga dramática capaz de botar muito filme hollywoodiano no chinelo.
E aí é que um despretensioso filme aparentemente infantil torna-se uma obra-prima. E mais do que isso, amigos, torna-se um nocaute emocional.
É como se a criança dentro de mim, que toda noite dormia com seus bonecos embaixo do travesseiro se visse na história, e soubesse lá no fundo do coração, o que seriam os minutos finais desse filme belíssimo.
Lembro que no cinema, o silêncio era total, nos últimos minutinhos. Lembro-me de engolir em seco. Sentir as pálpebras tremerem. E a lágrima começar a descer. Lembro-me de olhar ao meu redor, e ver pessoas de diferentes idades como eu, emocionadas, identificando-se com o fim de uma história que participou da vida de gerações. Ou melhor, que fez a infância de uma geração inteirinha. A minha geração.
Anos depois, invento de rever o filme. Achando estar maduro, preparado. E mais uma vez aquela criança que não queria crescer, que dormia com os bonecos embaixo do travesseiro e brincava de diretor de cinema apareceu. Mais uma vez o silêncio tomou conta e mostrou o "som" de um coração arrebatado por um desenho animado. Mais uma vez os olhos umedeceram-se. A emoção não era a emoção de um cinéfilo, extasiado com um filme delicado. Era a emoção de um garoto que viu-se na pele de Andy. Um garotinho crescido que até hoje tem um baú cheio de brinquedos. Que até hoje tem um Woody e um Buzz guardados, aposentados de tantas aventuras no Espaço Sideral.
Toy Story 3 conseguiu mais uma vez mexer comigo. Mexeu lá no íntimo, quando me mostrou que a história contada ali, não era apenas uma história de amizade. Não era a história do Andy. Não era a história dos brinquedos. Era a minha história. Quando me dei conta disso, já era tarde demais para ser "forte", e a lágrima já estava descendo.

NOTA MECÂNICA: 10,0

domingo, 3 de fevereiro de 2013

A Invenção de Hugo Cabret



Caros, antes de começar a falar sobre este belíssimo filme de Scorsese,  quero dizer que estou emocionado. Mas emocionado mesmo, maravilhado, eu diria. Embasbacado. Impressionado. Tudo com "ado" que consiga descrever minha sensação ao terminar de ver Hugo Cabret.
Pronto, agora sim, podemos falar sobre esta pequena obra-prima do novo cinema. A história, baseada no livro homônimo, conta a história de Hugo(Asa Butterfield), um garotinho órfão que vive dentro de um relógio em Paris. Ele é solitário e sua única companhia é a de um homem-máquina (uma espécie de Pinóquio mecânico) que seu falecido pai (Jude Law) lhe deu. Para "ligar" a máquina, Hugo precisa de uma chave que não lhe pertence. A expectativa de ligar o homem-máquina é grande, pois Hugo acredita que ele traga uma mensagem do próprio pai. Mas o que vai descobrir é algo muito maior que isso.
Scorsese, conhecido por filmes como Taxi Driver, Touro Indomável e Os Infiltrados, nos entrega um filme infantil altamente recomendado para todas as idades e amantes de cinema em geral. Aliás, ao assistir a Hugo Cabret, ficou-me a dúvida, se realmente os pimpolhos iriam se identificar ao filme. Embora misture gêneros, efeitos sonoros, cenas coloridas e um certo toque de "magia", o filme tem uma trama bem complexa para a cabeça dos guris. Mas esqueçamos faixas etárias (sei que vai agradar a todos no geral), atuações (excelentes) e fotografia (belíssima, a prova de que uma versão live-action de Tintim pode ser feita) e nos apeguemos ao que o filme tem de mais belo: o cinema. Hugo Cabret começa sendo uma dessas historinhas de órfãos com seu "brinquedo mágico" que a gente vê na Sessão da Tarde e termina sendo uma grande homenagem ao cinema. Mas homenagem mesmo, sabe? Daquelas que faz cinéfilo se arrepiar.
O motivo de tal homenagem? Simplesmente um dos personagens principais do filme (e o destaque da trama, pra ser mais específico) é George Méliès, velho e esquecido. Não posso expressar minha surpresa e emoção ao ver Viagem à Lua (1902) foi retratado. Mas eis que a surpresa só aumentaria. Toda a obra de Méliès está ali, e no fim, Hugo Cabret acaba sendo uma jornada cinematográfica, ao início do cinema. Ao início mesmo, sabe? Impressionante como um filme de aventura e fantasia torna-se documentário, depois vai para a ficção-científica e transita entre gêneros tão belamente.
Hugo Cabret é uma verdadeira mensagem de agradecimento, não só a Méliès, mas ao cinema em geral.
Uma história sensível, encantadora, cinematográfica. Uma viagem ao início do cinema está te esperando, e assim como o homem-máquina, você só precisa da chave do coração para aprecia-la.

NOTA MECÂNICA: 9,5

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Django Livre


Cinema de faroeste é uma das coisas mais típicas de Hollywood. Talvez a quantidade de filmes do gênero tenha diminuído, é verdade. Talvez também, os western mais recentes tenham perdido a qualidade dos antigos. Não me refiro só à era de Leone, Eastwood, Van Cleef ou Wayne.
Me refiro até mesmo à época em que eles eram mal feitos, mortes sem-graça, mas histórias de vingança que por mais fossem clichês, sempre enchiam os olhos. Me refiro aos antigos Django.
Eis que o maluco do Tarantino decide fazer a sua homenagem aos spaguetti do qual Django faz parte.
Mas peraí, estamos falando de Tarantino, oras! O cara que fez Pulp Fiction, Kill Bill e detonou Hitler em Bastardos Inglórios! Pronto, o convite está feito.
Django Livre não é um faroeste comum. É o jeito tarantinesco de narrar faroeste. E meus amigos, o resultado mais uma vez é explêndido.
Primeiro porque o filme é uma grande homenagem aos faroestes antigos. Os filtros que Quentin usa, para dar uma imagem mais old movie, a trilha sonora, os zooms repentinos resultantes em extreme close ups (o que já havia explorado em outros de seus filmes-homenagem), tudo remete aos filmes antigos. Sem contar, claro, do genial e cômico encontro entre Django (Jamie Foxxx me fazendo pagar a língua e mostrando que rappers sabem atuar) e Franco Nero (o Django dos filmes antigos).
Some a todas essas mais uma multidão de referências cinematográficas e pop. Sim, Tarantino mais uma vez faz um filme pop. Já viu tocar hip-hop em filme de bang-bang? É, isso é o efeito tarantinesco, caros.
O filme é tão belo, que Tarantino pega uma ideia inicialmente pobre, uma história aparentemente clichê e coloca tudo o que há de bom e do melhor de seu cinema nela, criando uma história sobre vingança (como sempre) daquelas que faz a gente vibrar quando vê o mocinho fazer justiça.
Soma-se ao concreto e hilário (sim, o filme é muito engraçado) roteiro, atuações digníssimas de premiação.
Como eu disse, Jamie Foxxx dá um show. É incrível a transição de um escravo calado para um pistoleiro vingador. Sem contar os "personagens" que ele tem de interpretar durante o filme, que só ratificam o bom trabalho do ator. Quem mais brilha aqui, certamente, é o nosso amigo Christoph Waltz, o conhecido "Hans Landa, de Bastardos Inglórios", nos entregando um personagem cínico, irônico, sarcástico e genial. Eu sempre quis ver como ele interpretaria um dos mocinhos, e o cara se supera. Por mim, a estatueta é dele.
Se Waltz brilha na maior parte do filme, só não brilha durante toda a película porque divide espaço com Leonardo DiCaprio e Samuel L. Jackson, irreconhecíveis em seus papéis! Gente, os caras estão muito bons! Tem hora que a cada minuto que passa, um rouba a cena do outro, e ficamos maravilhados com o espetáculo visto. Espetáculo, inclusive que conta em cena com o próprio Tarantino, que faz uma participação especial explosivamente inesperada.
Muita gente por aí dizendo que o filme é fraco, que Tarantino se perde nele? Pura balela! Se esperam um roteiro genial ou uma trama que deixa a gente confuso, vão assistir Hitchcock ou Nolan. Aqui estamos falando de humor negro, sangue e cenas memoráveis. Aqui, estamos falando de Tarantino!

NOTA MECÂNICA: 9,0