O faroeste (ou western, como nós, cinéfilos, chamamos) tem uma longa jornada nas telonas (uma vez que está no cinema desde seu início), e embora sempre fora um estilo notadamente norte-americano, se popularizou com os spaguetti que Leoni dirigia, lá na Itália. No fim das contas, existe faroeste em tudo quanto é canto (inclusive no Brasil), em todas as épocas e de todas as formas. Mas como se criar uma obra-prima de um gênero tão usado, tão batido e por ora tão... clichê?
Bom, George P. Cosmatos conseguiu criar uma, no comecinho da década de 1990. O curioso de toda obra-prima, é que ela não nasce sendo uma obra-prima (como James Cameron tentou vender seu "Avatar" e acabou quebrando a cara: hoje, ninguém mais gosta do filme). Até um filme ganhar um status de cult, travar-se-á uma longa jornada, crianças. E creio eu, que o filme em questão nesta crítica, Tombstone: A Justiça Está Chegando, ainda não virou obra-prima. Na verdade, creio que um dia será, se a cinefilia permitir.
É preciso realmente assumir que o filme tem suas falhas, principalmente no quesito "roteiro". Umas soluções forçadas aqui, uns clichês brabos acolá. Mas por favor, é preciso assumir: as qualidades superabundam neste clássico de um diretor medíocre mas que aqui consegue brilhar.
Cosmatos é um italiano que dirigiu filmes como Stallone Cobra e Rambo II, pra você ter ideia. O interessante, é que como italiano, o cara deveria ter investido mais em bang-bangs como Tombstone.
A trama, conta a os feitos do lendário Wyatt Earp (Kurt Russel), juntamente com seus irmãos (Sam Elliot e Bill Paxton) e um amigo que consagrou-se uma lenda do faroeste: Doc Hollyday (Val Kilmer).
Os irmãos Earp estão se aposentando do serviço à lei. Ambos, impulsionados por Wyatt decidem recomeçar, casar, abrir um negócio e envelhecer bem. Para isso, decidem todos ir para uma cidade tranquila e moderna, chamada Tombstone. O problema, é que lá, há uma gangue de Caubóis infringindo a lei, estando acima até mesmo do xerife e delegado da cidade. Logo logo, a sede de justiça dos agora pacíficos Earp vai leva-los a novamente agir, contando com a ajuda do pistoleiro e amigo Doc Holliday.
Os feitos de Earp e companhia foram ainda retratados em outro filme, no ano posterior, estrelado por Kevin Costner, o Silverado. Porém, no filme do italiano Cosmatos, o buraco é mais embaixo: auteram-se muitas coisas da história real, para dar um tom mais épico, mais heróico aos personagens e acrescentam-se diálogos superafiados e tiroteios cheios de tensão!
A trama é tipicamente western: os caras que chegam na cidadezinha empoeirada, sem querer nada, apenas viver. Aí são provocados e botam pra quebrar.
Em Tombstone, o buraco é mais embaixo, e ao tentar exercer a justiça os quatro pistoleiros podem pagar caro. Com sangue.
Embora eu já tenha citado o roteiro, que tem seus probleminhas, o filme é explêndido. O elenco está afinadíssimo, Russel nos entrega um Earp muito consistente, sólido, íntegro. Embora todos os atores sejam esforçados e tenham seus momentos de grandeza, quem brilha mesmo no filme é Val Kilmer. É incrível como o personagem rouba todas as cenas em que aparece e faz o mais simples diálogo parecer grandioso.
A fotografia é muito boa, figurino, cenários, tudo muito bacana, tipico de faroeste. A trilha sonora também é bem feita, embora haja a ausência da tensão de Morricone.
Acredito que Tombstone um dia torne-se um clássico justamente por causa dos diversos acertos que o filme tem. É incrível, mas está repleto de cenas memoráveis. A cena em que o personagem Johnny Ringo faz malabarismos com a pistola, tentando intimidar o alcoólatra Holliday. Depois de todo o exibicionismo, Doc simplesmente pega o copo em que estava bebendo seu whisky e faz os mesmos malabarismos que o pistoleiro, com uma cara sarcástica impagável. Os diálogos são todos afiados, irônicos, carregados de efeito.
Por fim, Tombstone é um grande faroeste, que embora ainda seja visto como um "pipocão dos anos 90", creio que será reconhecido posteriormente.
NOTA MECÂNICA: 8,5
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