terça-feira, 30 de abril de 2013

Argo


O ano é 1979 e o país é o Irã. A situação é a Crise de Reféns e as vítimas são 6 dos 60 funcionários reféns que conseguem escapar. Os fugitivos são acolhidos por um embaixador canadense, no Teerã. O problema é que eles estão sendo caçados e com certeza não poderão sair do país vivos.
Como entrar no país e tirar esses 6 funcionários do esconderijo? Fácil: criando um filme falso de ficção-científica, que usará o Irã como locação e dar esses funcionários identidades falsas e funções específicas no filme, disfarce que garantirá a saída deles do país sem que sejam reconhecidos. Arriscado? Muito. Mas essa é a ideia que o agente da CIA Tony Mendez (Ben Affleck) tem e decide executar. E assim surge Argo, o filme que nunca foi feito, idealizado para a missão jamais contada, guardada a sete chaves e que há mais de uma década foi revelada.
Em uma era onde Hollywood aposta anualmente em remakes, reboots e adaptações de quadrinhos e livros juvenis, Affleck (que também é o diretor do filme) nos traz uma trama original, bem dosada que varia entre o humor e suspense, recheados de muita, mas muita tensão. É a ideia original, sobretudo, que é um dos grandes trunfos de Argo, filme que entre outros prêmios, levou o cobiçado Oscar de Melhor Filme. Você pode até achar que foi uma premiação desmerecida, por achar que haviam filmes melhores, mas em uma coisa tem que concordar comigo: Argo é um filmaço!

Os personagens são bem desenvolvidos, o roteiro é bem coeso, as atuações muito boas e a direção muito bem objetiva e determinada. A trilha sonora é muito boa, a fotografia também.
Muita gente chiou quando Ben Affleck ganhou os principais prêmios das principais premiações da sétima arte (Oscar e Golden Globe), mas o grande trunfo de Argo está em sua ideia totalmente cativante e original. E mais: não pense que Argo é somente mais um filme de suspense super patriota. Não não, ainda sobra espaço para uma baita homenagem a Hollywood e suas produções de ficção-científica, com a presença ilustre de John Chambers (John Goodman), entre outras referências ao cinema.
Argo é um filme simples, cativante e emocionante. Uma prova de que Ben Affleck tem futuro como diretor e de que ainda podem existir ideias boas e inovadoras na cada vez mais não-criativa Hollywood.







Homem de Ferro 3


A Marvel mostrou-se uma máquina de fazer dinheiro ao transportar ela mesma seu universo dos quadrinhos para as telonas, o que começou em 2008, com o filme Homem de Ferro, produzido pela Marvel Studios.
5 anos depois, o que era novidade na época virou sinônimo de qualidade e bilheterias cheias. Já vimos homens de ferro, gigantes verdes, deuses asgardianos, supersoldados, espiões secretos e muito mais.
O ápice da produtora veio no ano de 2012, com o épico arrasa-quarteirões Os Vingadores. A principal estrela, claro, era ele, o Homem de Ferro. Robert Downey Jr. conseguiu encarnar o gênio (bilionário, playboy e filantropo) Tony Stark da maneira certa: com humor, carisma e personalidade. Fez isso tão bem, a ponto de ele ser o ator de segundo maior cachê atualmente em Hollywood, sendo idolatrado por uma infinidade de fãs. Você deve estar se perguntando o porquê de eu falar tanta coisa que você provavelmente já sabe. Simples: temos que ter consciência do desafio que Shane Black (o novo diretor de Iron Man) tinha em mãos, o de fazer um filme melhor que os seus antecessores. E eis que estreia no cinema o resultado de muita expectativa, muita publicidade e alvo das mais contraditórias críticas, por hora detestando-o e por hora elogiando-o: Homem de Ferro 3.
Os dois primeiros filmes do Homem de Ferro foram super bem-sucedidos não só nas bilheterias como também entre os fãs. E nesse ramo de "sagas", que tá dando muito dinheiro hoje, seria preciso um esforço tremendo da Marvel para criar um filme tão épico ou melhor do que os outros capítulos cinematográficos da produtora. Para isso, mudanças seriam necessárias. Sai da direção Jon Fraveau (que continua atuando como o amigo e alívio cômico de Tony, "Happy") e entra Shane Black, diretor de Beijos e Tiros ("Kiss Kiss, Bang Bang") e roteirista da brilhante série Máquina Mortífera.
Black dá um novo tom à série, uma carga mais dramática, embora as piadas marquem presença (muitas vezes até excessivas e desnecessárias, inclusive). O filme é mais uma jornada de aprendizado, de descoberta para Tony Stark. O bilionário está sofrendo de crises de ansiedade, é só alguém lembrar o incidente de Nova York (que ocorreu em Os Vingadores) e pronto! Tony está "desmontado". Por falar em montar, o gênio ainda tá com mania de construir várias e várias armaduras, para proteger-se e também para a segurança de Pepper Potts (Gwyneth Paltrow). Mas eis que surge o Mandarim, um vilão oriental com histórico de atos terroristas por todo o globo e que ataca vários pontos norte-americanos sem uma aparente bomba ou gatilho. O velho Stark resolve convocar o terrorista para um duelo, mas o que recebe em troca é muito mais intimidador. O Mandarim ataca de tal forma, que Stark agora não tem casa, segurança ou armaduras. E é aí que entram um dos maiores méritos da película: este não é um filme sobre o Homem de Ferro. É um filme sobre Tony Stark.
A ausência de outros personagens do universo (e até mesmo da S.H.I.E.L.D.) dá ao filme um tom de descompromisso com a série, um tom de "conto separado", um ar de arco de quadrinhos mesmo, uma história completinha e divertida, desses encadernados que encontramos por aí.
Shane desenvolve bem seu Tony Stark, dando-lhe momentos de genialidade, improviso e até de espião tipo James Bond, sem deixar de lado as diversas piadas do Robert, a carga dramática e até uma novidade: a violência. Por ter um ritmo frenético, acelerado e cheio de ação, Iron Man 3 inova até no emprego de sua violência, não tornando-a explicitamente sanguinária mas colocando o seu personagem principal em vários momentos assassínios.
O maior problema da película, infelizmente, é o roteiro. Repleto de falhas e furos visíveis, deixa a desejar em algumas sequências, optando pelas comuns soluções rápidas e dá a sensação, inclusive, do filme ter sido cortado, pelo tanto de situações mal resolvidas. Nada, porém, que atrapalhe a diversão.
Diversão, aliás, é o que define o terceiro filme sobre o Iron Man. Talvez os fãs detestem um pouco os caminhos que a pelí
cula toma, mas não podem discordar que Homem de Ferro 3 é o mais divertido da saga.
São efeitos especiais, frases de efeito, cenas de tirar o fôlego e muitas situações cômicas. Deleite para o grande público, com certeza!
Assim, Iron Man 3 é um grande divertimento, repleto de atuações digníssimas (Ben Kingsley está fenomenal), reviravoltas geniais (aplausos para o marketing do filme, a todo momento nos enganando genialmente) e, principalmente, Tony Stark, o que todos têm que concordar: nunca é demais.

NOTA MECÂNICA: 8,5

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O Homem Dos Punhos de Ferro




Durante a vida acadêmica, nós, jovens gafanhotos, estudamos as escolas literárias que marcam o momento social de cada época. Refrescando as memórias, temos, por exemplo, o Barroco, que marca o momento histórico da contra-reforma, os neoarcadistas que buscam o equilíbrio na estética dos clássicos antigos durante um período de mudança no pensamento humano. A questão é: por que este interlocutor que vos fala teve que dar uma “aula” de português/historia no paragrafo de introdução de um critica de um filme atualíssimo?

Bem, costumo dizer que o épico Quentin Tarantino é o meu diretor/roteirista preferido e que o considero como Einstein das películas. Acontece que, Quentin apresenta um estilo de filme que até então nunca havia sido explorado, que para abruptos, não passa de sangue e personagens sarcásticos (os famosos “Badass”). Sabemos que , não é bem por ai, e o estilo considerado “indigesto” pelos primeiros críticos mais conservadores, vem desde os anos 90 acumulando Oscar  e premiações diversas. Seguindo o ponto de vista de que tudo que é bom se torna referência, podemos aqui dizer que com o filme O Homem Dos Punhos de Ferro presenciamos uma obra da “Escola Tarantinesca”. Isso mesmo, amigo, no decorrer deste texto pretendo analisar o filme e apresentar meus argumentos de mero admirador apaixonado pela sétima arte.

O Homem dos Punhos de Ferro é um filme dirigido por RZA (estreia do rapper como diretor) e tem roteiro escrito pelo mesmo RZA e Eli Roth (ator de Bastados Inglórios e diretor de O Albergue), onde a trama se passa em uma China feudal, onde Darius Smith (RZA) é um ferreiro de passado escravista, que se torna um defensor dos camponeses. No roteiro vemos a primeira influencia tarantinesca mesmo que em proporções mínimas, três personagens, cada um com historias diferentes que se envolvem em um ponto, apesar de que, com exceção de Smith que tem sua história completamente relatada no filme, dos outros dois personagens, X-blade e Jack Knife (Russel Crowe) se têm apenas conceitos e traços de suas personalidades.

O filme segue a linha do Kung-fu que eu costumo chamar de “Sobrancelha Branca”. Muita pancadaria, história clichê, ações lineares, monges, hadouken, etc. Realmente, sobre o roteiro não há nada de brilhante, uma história modesta, porém, amigo, pra quem é fã dos clássicos tarantinescos, os elementos ainda assim são fascinantes, o uso do sangue a ponto da banalidade é um dos pontos mais incisivos que se deve ressaltar, embora os personagens não tenham sido bem construídos e isso “comba” com a pobreza da história, trazendo um filme tímido até de mais. Sobre os personagens, Jack Knife é um dos poucos que chegam a ter um pouco de carisma pelo seu sarcasmo e postura totalmente despojada, porém a linearidade da história não permite que isso se aprofunde a ponto de ser genial a nível Tarantino.


Outro ponto que evidencia a natureza hermética do filme é a própria composição dos personagens, que se assemelham exacerbadamente com os famosos de Mortal Kombat (sem comentários)! Por exemplo, Madame Blossom interpretada por Lucy Liu ( Os anos são generosos com a Pantera) e o próprio Black Smith (RZA) são os irmãos menos bizarros de Kitana e Jax respectivamente, dando um aspecto de “Crossworlds” completamente desnecessário. Trilha sonora do filme é o hip hop mixado com trilhas orientais, uma boa sacada, mas ofuscada pelos outros erros técnicos grotescos.





Pode-se considerar que a estreia de RZA na telona por trás das câmeras foi fracassada na sua essência. Ao levar o nome de Quentin Tarantino espera-se sempre algo muito bem elaborado, e não é o que encontramos na trama, aspecto diferente do seu colega de segmento Robert Rodriguez (Sin City, e saga Um Drink no Inferno, além de ser meu "primo") que tende pelas mesmas diretrizes do mestre e nos trás até agora trabalhos no mínimo feitos com certa percepção e habilidade.

No fim, O Homem Dos Punhos de Ferro é um filme tímido que pode causar descontentamento ou irrelevância para fãs de "cinema bem aplicado" e que pode muito bem ser assistido com os brothers, por puro divertimento. Vale a pena a conferida, pela ousadia de seguir uma vertente com fãs tão exigentes.

NOTA MECÂNICA: 6,0