Na Índia, por exemplo, encontramos um filme lindíssimo que me surpreendeu nos últimos dias, o "Como Pequenas Estrelas Na Terra" (ou, "Somos Todos Diferentes").
Até no Brasil, podemos ver que as produções têm melhorado, como "Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora É Outro", "Heleno", "Reis e Ratos", "2 Coelhos" e outros aí, que embora não sejam filmes perfeitos, demonstram uma incrível evolução do cinema nacional.
Mas não estou aqui para falar da falta de valorização ou divulgação de filmes desconhecidos. Estou aqui para falar de uma pérola do cinema argentino que foi sim reconhecida, que levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010 e que deveria ter sido melhor divulgada aqui no Brasil.
Essa pérola, chama-se O Segredo Dos Seus Olhos. Um daqueles filmes bonitos, emocionantes, que surgem raramente, um acerto em mil.
Na trama, Benjamín Espósito (Ricardo Darín) acaba de se aposentar como funcionário público da justiça penal argentina e resolve escrever um livro sobre um crime que investigou. Ele, então, volta a conviver com alguns personagens do fato ocorrido 25 anos antes.
A trama, baseada no argumento de Eduardo Sacheri e Juan José Campanella é seca, humana, cruel, pesada. Acima de tudo, é uma história sobre o homem, sobre suas paixões. Incrível como o diretor Campanella consegue unir crime, mistério, romance e até humor durante os 130 minutos da película, que passam como se fossem 10.
O personagem de Darín vive no passado, vive de lembranças. Memórias de perdas, de amores terminados, de mistérios inconclusos. Quando resolve escrever o tal romance, é uma maneira de voltar àquilo que sempre o pertubou, que o sempre impediu de viver. Enquanto vai escrevendo seu livro e revisitando as memórias por meio de flashbacks, vamos vendo a magnitude de um filme relativamente simples, sem efeitos especiais, urbano, pacato mas grandioso. Ao invés das correrias, tiroteios e perseguições dos filmes policiais comuns aqui temos muito diálogo, sempre grandioso e coerente.
A fotografia é belíssima e dá espaço à mais bela cena de perseguição que já vi num filme. Aliás, não só à perseguição, mas a sequência em si é linda. O modo como a câmera percorre o estádio de futebol, o chute quase certeiro, a reação da torcida, os closes atrás do assassino. Tudo feito com profissionalismo, de um modo que o nosso caro José Padilha também sabe fazer com maestria.
Os atores são muito bons. É lindo ver como os personagens amadurecem e mudam (não só fisicamente) durante os 25 anos que se passam. O romance de Benjamin com Irene Hastings (Soledad Villamil) é igualmente fascinante. É um romance calado, sofrido. Sabemos que ele existe, mas não o porquê de não florescer. Muito bom!
Outro papel que chama a atenção é o do grande Guillermo Francella, interpretando Sandoval, o carismático (e alcóolatra!) amigo de Benjamin, que serve como alívio cômico do filme e que desenvolve um grande exemplo de amizade durante a película. Vê-los juntos é sempre divertido!
O roteiro - ou melhor, a trama em si - é com certeza o ponto mais forte do filme. Como eu citei antes, mostra o lado humano dos personagens, frio, cru. Algumas vezes, são as cenas que chocam, outras os diálogos ou as ações dos personagens. Tudo aqui parece real e ao mesmo tempo lírico. É emocionante acompanhar toda a história, que vai muito além de um drama policial.
Certamente um dos melhores filmes dos últimos anos e um bom representante do bom cinema latino-americano (foi o terceiro filme latino-americano a receber o Oscar de melhor filme estrangeiro, sendo o primeiro o brasileiro "Orfeu Negro" e o segundo o também argentino "La historia oficial"), O Segredo Dos Seus Olhos é certamente uma grata surpresa. Por falar em surpresa, não existem palavras para descrever o final surpreendente do filme, daqueles que te fazem ir dormir pensando e meditando, tentando entender. Imperdível!
NOTA MECÂNICA: 9,0